Renascer

"Hoje sei que dá para renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"
             Martha Medeiros (1961-...)
             Poetisa, escritora e jornalista brasileira

RENASCER

No silêncio,
Em estado de serenidade 
E de observação,
Aos poucos,
Sem nada fazer,
Afasto um obstáculo,
O astuto caminho da mente
Que, condicionada,
Mascara, ilude
E me mantém refém.
Pelo milagre
Da consciência reflexiva
E de inocência mesclado
Entro num vazio 
E sinto-me cheio.
Transcendo a mente,
Que já não me cativa,
E abre-se a porta
Do coração amigo
Que me dá as boas-vindas
Para me guiar ao meu ser,
Fonte de bem-estar
E de liberdade suprema.
No sentir da consciência
A tocar a existência
Vejo-me renascer
Em cada novo dia,
Em cada nova experiência.

Braga, 22 de junho

© Jorge Nuno (2013)

 

Olhar da Verdade

"A diversão pode basear-se na ilusão, mas a felicidade baseia-se apenas na verdade"
                                                                    Nicolas de Chamfort (1741-1794)
                                                                    Escritor e humorista francês


OLHAR DA VERDADE

Desativem-se os medos
Que turvam pensamentos e sentimentos,
Deitem-se abaixo os muros 
De proteção e proximidade
Que provocam amargo afastamento
Do que se quer
E de quem se quer,
Pois na defesa ou repressão
Consome-se energia
E adensa-se a nuvem.
Se o intelecto exige clareza
Sem impedir ou refrear sentimentos
Desmascarem-se os medos,
Retire-se o véu
Do que não se quer ver
E, com o olhar da verdade,
Ligue-se o motor da mudança
E como que por encanto
Dissipa-se a densa nuvem
E avistam-se novos caminhos.

Rabat (Marrocos), 9 de junho

© Jorge Nuno (2013)

Ondas do Meu Sentir

"Um homem sábio não acredita que a felicidade e o sofrimento acontecem sem um motivo"
                                           Siddhartha Gaudama [Buda] (563 a.C. - 483 a.C.)
                                           Mestre espiritual e fundador do budismo no séc. VI a.C.

         
ONDAS DO MEU SENTIR

Na rocha da minha alma
Rebentam ondas do meu sentir.
No seu vaivém inconstante,
Em fortes turbilhões,
Grandiosas, agitadas,
Espumam na dor do embate,
Na ausência de sintonia
Com a aspiração profunda.
Após vigor do combate,
Acariciam, suavizadas,
Em deleite de harmonia,
Vibram em boas sensações
Pelas soluções encontradas
E propiciam mar-chão de calma.

Casablanca (Marrocos), 15 de junho

© Jorge Nuno (2013)

A Idiotice

"Quase noventa por cento dos idiotas são treinados. Dez por cento já nascem idiotas. E esses dez por cento nascem idiotas por causa dos noventa por cento que foram treinados".
                                  Osho (1931-1990)
                                  Místico / mestre espiritual indiano, professor de filosofia e orador

A IDIOTICE

A idiotice é,
A cada dia, recriada, fomentada,
Apadrinhada, treinada
Com mórbida disciplina forçada
E de outras técnicas disfarçada,
Exigência de seguidismo, envenenada,
Fatalidade da individualidade eliminada,
Processo de inteligência petrificada,
Roteiro de felicidade adiada.
Há idiotice assimilada
Em padrões de obediência organizada,
Consentimento de uma vida encenada,
Rituais de conveniência instalada,
TV´s de informação padronizada,
Fazedores de opinião mumificada,
PC's de sapiência armazenada
E cabeça oca, distraída, vulgarizada,
Para que haja submissão prolongada
Por idiotas de uma elite concentrada
Em manter um mar de gente explorada,
Humilhada, desumanizada, ridicularizada,
Maltratada, manipulada, subjugada.
No anseio da essência desabrochada,
Um dia a idiotice será rejeitada
Pelo idiota que quer a existência dignificada,
Mesmo sabendo que atitude é censurada
Que a sua integridade é ameaçada,
Que outros continuarão de idiotice estampada
Tal como em milénios de humanidade atrofiada.
Mas a sua ousadia será premiada,
Pois cada idiota, com coragem galvanizada,
Quererá ver a sua exigência superada
E sentir a liberdade do ser, individualizada,
Numa existência condigna, vivenciada,
Autêntica e iluminada.

Braga, 26 de junho
© Jorge Nuno (2013)

Sedução do Desejo

“Se as coisas não acontecem como desejamos, deveríamos desejá-las do modo que elas acontecem”

                                                                                                      Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.)

                                                                                                                                      Filósofo grego

SEDUÇÃO DO DESEJO

O Universo seduz-me

E aponta-me um desejo,

Experimenta a reação

E quer-me fazer crescer.

Aceito e confio no porvir

Sem obsessão pelo desejo,

Mesmo ainda sem saber

Se fala o coração ou razão,

Se é carência,

Forma de ocupação,

Procura de nova etapa

Ou se persigo profunda aspiração

Por detrás do desejo,

Algo que me ajude a mudar

Por amar a caminhada.

Ativo a força dos sentimentos,

Ouço atento o coração,

Talvez vislumbre um desejo diferente

Dissimulado em desejo aparente

E procuro atrair o que irradio

Na espera do caminho encontrado

E na certeza de perseguir o sentido.

Marraquech, 13 de junho de 2013

© Jorge Nuno