DEIXEMOS ENTRAR A MAGIA
Pululam casos sensacionalistas, felizmente,
com tendência para a descoberta da verdade. No futebol, em vez do jogo jogado,
rola a “bola” dos e-mails, em turbilhão, com inúmeros gigabytes, a revelar uma
sucessão de escândalos e a fazer movimentar a Unidade Nacional de Combate à
Corrupção, da Polícia Judiciária, a exigir trabalho extra. Dois comandantes de
bombeiros a serem constituídos arguidos, no caso dos fatídicos incêndios de
Pedrógão Grande, indiciados de crimes de homicídio por negligência e ofensas
corporais; em vez de colaboração institucional, fica a ideia de terem sido
(re)abertas hostilidades, com o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses a
desafiar publicamente o presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, para
que divulgue casos “menos transparentes” que conheça, após o segundo ter
anunciado que “irá ser reforçado o número de ações inspetivas (…) e promovidas
acções de auditoria interna [aos corpos de bombeiros e associações humanitárias
de bombeiros]”. Fruto de trabalho de investigação jornalística, fica-se a saber
que, na Raríssimas - Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, que nos
últimos anos tem médias orçamentais superiores a quatro milhões de euros, dos
quais cerca de 1,2 milhões financiados pela Segurança Social e pelo Ministério
da Saúde, haverá fortes indícios de esbanjamento de recursos, com uso indevido de
dinheiro da instituição para fins pessoais, elevadas compensações financeiras
para a própria presidente, assim como “estranhas” ligações contratuais de
assessores, a cobrar quantias excessivas, que levou o ex-secretário de estado
da Saúde a pedir demissão, e a que fosse pedido a demissão da respetiva
presidente daquela instituição; o ministro do Trabalho, da Solidariedade e Segurança
Social, fragilizado com este caso, pediu uma inspeção a esta Associação, com
caráter urgente. Com outro trabalho de investigação jornalística, fica-se a
saber da existência de uma rede de adoções ilegais praticadas pela IURD –
Igreja Universal do Reino de Deus, a indiciar os crimes de subtração de
menores, sequestro e tráfico de crianças; o Ministério Público abriu uma
investigação a este caso. Volta à baila o caso da [falsa] seita “Verdade
Celestial”, em que ficou provado, no tribunal, os crimes de abuso sexual de
menores, com o líder e principal arguido a ser condenado a 23 anos de prisão
efetiva, juntamente com mais cinco arguidos presentados com penas menores.
Há uma máxima num templo[1]
no Japão que diz: “Não veja o mal – não oiça o mal – não fale mal”. Quem
conhece minimamente a filosofia oriental, saberá que não é um apelo para que se
assobie para o lado. Nesta época, em que predominam ampliados sentimentos de
entusiasmo, excitação, entrega, generosidade… sob o poder regulador da vida – o
amor – há como que uma anestesia natalícia. Focando-nos nas coisas positivas,
seguramente, sentir-nos-emos melhor.
Vejamos, então, com outros olhos, pois,
apesar de tudo, os ventos parecem de feição:
– A Santa Casa irá doar 27% das receitas
dos jogos/apostas, na semana que antecede o Natal, para integrar um fundo
destinado a apoiar as vítimas de incêndios (verba estimada entre 4 a 6 milhões
de euros);
– O primeiro-ministro português foi
integrado no “top ten” dos políticos europeus mais influentes. No “One Planet
Summit” – cimeira sobre o clima, em Paris – garantiu a aposta nas energias
renováveis; o ministro do Ambiente afirmou que Portugal assumirá o papel de
“front runner” [linha da frente] na luta contra as alterações climáticas; outro
português, António Guterres, no cargo de secretário-geral da ONU, concluiu a
cimeira com um discurso apelando a que haja mais ambição, mais liderança e mais
parcerias na luta contra o aquecimento global, pedindo aos líderes “que mostrem
coragem a combater interesses instalados”;
–
Uma imagem positiva externa levou a que o ministro das Finanças, deste pequeno
país, tenha sido eleito para liderar o Eurogrupo;
– Depois de já ser considerado o
“Melhor Destino Turístico da Europa”, Portugal foi agora considerado o “Melhor
Destino Turístico do Mundo”, nos World Travel Awards (WTA) – prémio nunca
conseguido por qualquer outro país europeu. Neste evento, Portugal arrecadou
mais os seguintes prémios: Lisboa obteve o prémio “Melhor Destino para City
Break” (estadias de curta duração); Parques de Sintra[2],
pela quinta vez consecutiva, conseguiu o prémio “Melhor Empresa do Mundo em
Conservação”; o Turismo de Portugal foi considerado o “Melhor Organismo Oficial
de Turismo do Mundo”, assim como o seu portal oficial obteve o prémio de
“Melhor Site Oficial de Turismo”; já a Madeira foi considerada o “Melhor
Destino Insular do Mundo”;
– Entusiasmado com as citadas
distinções atribuídas a Portugal, o ministro das Finanças referiu que seria
bom, para os juros da dívida pública, o aumento do “rating” pela agência de
notação financeira Fitch, a exemplo do que aconteceu com a Standard &
Poor’s, que retirou a notação de crédito de Portugal da categoria “lixo”. Anunciou,
também, a entrega de mais mil milhões de euros ao FMI, até ao final do ano,
totalizando a entrega de 10 mil milhões de euros em 2017, que faz diminuir a
dívida pública e aumentar a confiança em Portugal.
Escreveu a autora australiana, Rhonda
Byrne[3]:
“Se aconteceu algo de negativo na sua vida, pode alterá-lo. Nunca é tarde
demais, porque pode sempre mudar a forma como se sente. (…) Todos os dias tem
uma oportunidade para uma nova vida. Todos os dias está num ponto de viragem da
sua vida. E em qualquer dia pode mudar o futuro – pela forma como se sente”.
Conclui, na contracapa do mesmo livro: “Está na hora. Deixe que a magia entre
na sua vida!”. E a magia entrou mesmo na vida de Celso Fonseca! Numa entrevista
feita pela agência Lusa, divulgada pelo Jornal de Notícias, pode ler-se:
“Português passa de sem-abrigo a recordista mundial de ultraciclismo”. É
relatado que teve alguns acidentes e que reagiu mal às evasivas das seguradoras
em Portugal. Assim, resolveu ir para o Reino Unido e trabalhou em Cardiff, País
de Gales, em que uma das profissões exercidas foi a de segurança. Disse, na
primeira pessoa: “Fui abusado pelo meu pai quando era criança (…). Tornei-me um
sem-abrigo porque a minha cabeça ‘explodiu’. Tentei suicidar-me, mas agora
estou a ser seguido por um psiquiatra. (…) Eu quero fazer a diferença. Pela
primeira vez percebo que não fiz nada de errado”. Quando vivia nas ruas, diz
ter-se entusiasmado com um vídeo das 24 horas de Le Mans (automobilismo) e
pensou fazer o mesmo, mas em bicicleta. Viria a ser apoiado por uma cadeia de
lojas de bicicleta e treinou arduamente. Acompanhado por oficiais da Associação
de Ultramaratonas de Ciclismo do Reino Unido, apesar das dificuldades de
alimentação e da baixíssima temperatura no dia da prova, a chegar aos quatro
graus negativos, conseguiu percorrer 708 km, quebrando recordes mundiais nos
300 km (em 9:05:41 horas), 300 milhas (482,8 km, em 15:31:59 horas) e 500 km
(em 16:08:33 horas). Acreditemos que a sua vida teve um forte impulso positivo.
Saibamos mudar o futuro, individual e
coletivo, e deixemos entrar a magia!
Um Santo Natal e uma vida melhor para
tod@s.
© Jorge Nuno (2017)