TRÊS VEZES: OBRIGADO,
OBRIGADO, OBRIGADO!
Desde a minha juventude
que me vejo como um homem que transpira positividade. Não é alheio o facto de
dar importância à experiência de vida, que conta com seis décadas, sendo raras
as vezes que fico a queixar-me. É que muito cedo aprendi algo da sabedoria
milenar chinesa – um provérbio, que diz: “É melhor acender a candeia que queixar-se
da escuridão” –. Como qualquer mortal, também vou tendo as minhas fraquezas,
mas que procuro aprimorar, aproveitando as “quedas do cavalo para sacudir o pó
e voltar novamente para a garupa do cavalo” o mais rápido que posso. Também não
é alheio o facto de ser um leitor que tem sempre um bom livro por perto, como
aconteceu com: “A Divina Sabedoria dos Mestres” de Brain L. Weiss, que aponta o
amor como “a energia mais básica e, ao mesmo tempo, a mais universal” e dá
pistas de como se encontrar o equilíbrio certo, colocando o amor no centro
desse equilíbrio; “Energia Positiva – como livrar-se dos vampiros emocionais”,
de Judith Orloff, considerando o USA
Today tratar-se do “livro ideal para lidar com problemas profissionais,
stresse e todas aquelas pessoas que nos sugam a energia”; “Inteligência
Positiva – o novo quociente de inteligência”, de Shirzad Chamine, que segundo The Globe and Mail é “um método para
combater as armadilhas mentais” e segundo a própria autora – docente e
investigadora no campo da neurociência e da psicologia – “ao criarmos hábitos
de pensamento negativo, criamos tendências de autossabotagem (…) que nos impede
de atingir o verdadeiro e pleno potencial [intelectual e emocional]”; “Emoções
Destrutivas e Como Dominá-las”, de Daniel Goleman, que dá algumas respostas,
após um encontro de estudiosos budistas, filósofos, neurocientistas e
psicólogos ocidentais com o Dalai Lama, sendo que uma das perguntas é: “Podemos
aprender a viver em paz com os outros e com nós mesmos?”; Em “A Magia”, Rhonda
Byrne revela ao mundo “ensinamentos transformadores. E, a partir daí, numa
assombrosa viagem de 28 dias, mostra como aplicar esses ensinamentos à vida
quotidiana [de qualquer um de nós]”.
Tenho reparado, ultimamente,
na minha performance e fica a
sensação de algum azedume, particularmente quando escrevo e depois releio as
minhas crónicas. Não é fácil a convivência com a injustiça e com uma série de
fatores que, com maior ou menor incidência, acaba por nos afetar e retira algum
prazer nesta fabulosa viagem, que é a vida. Habituei-me a enfrentar os
problemas com alguma elevação, muita ironia e até humor negro (sem qualquer
conotação rácica), um humor avinagrado (sem pretender azedar ainda mais o tema
abordado) e, naturalmente, gosto de escrever, pois sei que desta forma tenho a
oportunidade de poder dar contributos para o despertar de consciências
adormecidas.
O citado livro da Rhonda
Byrne menciona e explora uma mensagem do Evangelho de São Mateus, que diz:
“Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado em abundância. Mas àquele que não tem,
mesmo o que tem lhe será tirado”. A frase confunde e aparenta injustiça, pois
parece querer dizer que os ricos ficarão ainda mais ricos e os pobres ficarão
ainda mais pobres – o que em boa verdade está a acontecer neste e em muitos
outros países. Este enigma fica descodificado se a frase for a seguinte: “Pois,
àquele que tem gratidão, ser-lhe-á
dado em abundância. Mas àquele que não tem gratidão,
mesmo o que tem lhe será tirado”. Visto por este prisma, se parece que me estou
a tornar velho… e ainda, por cima, rezingão, a aproximar-me do personagem “Grou
– o maldisposto”, só há uma volta a dar: tornar-me grato, grato, grato! Dentro
da positividade (mas também ironia) que me carateriza, vamos acreditar que este
processo funciona e parto para o terreno retirando a carga negativa do que me
apoquenta:
1 – Estou grato pelos
pescadores portugueses da sardinha, que depois de estarem tantos meses em terra
sem poder pescar, após uma auditoria pela Intertek
Moody Marine – um certificador independente – a sardinha capturada em águas
portuguesas passa a estar certificada, podendo apresentar o rótulo ecológico
azul do MSC – programa líder de certificação ambiental para a pesca selvagem –,
quando puderem pescar. Obrigado;
2 – Estou grato pelo
zelo dos deputados do Parlamento Europeu, que tendo problemas muito sérios para
resolver, ainda conseguiram tempo para aprovar um documento que uniformiza as
sanitas no espaço europeu, estando em crer que a partir de agora o ato de
defecar, em igual utensílio a utilizar por pobres e ricos, ficará mais
suavizado. Obrigado;
3 – Estou grato por
terem sido mandadas abater muitas dezenas de milhares de árvores afetadas pelo
nemátodo, entre castanheiros, cerejeiras, pinheiros e outras resinosas, na
região transmontana, e estou grato por uma equipa de investigadores franceses ter
descoberto que o nemátodo pode ser atacado através de infeção viral. No
primeiro caso, até pode ser que finalmente origine o reordenamento da floresta,
reduzindo a proliferação de incêndios. E, quem sabe, até algum iluminado
descubra como repovoar a Terra Fria com tamareiras, que dão um fruto que adoro.
Obrigado;
4 – Estou grato pela
intenção do governo português em adquirir o navio polivalente logístico francês
“Siroco”, por responsável da Marinha Portuguesa não saber de onde vêm os 30 milhões para a compra, para depois
se afirmar que estão “acomodados” em termos orçamentais e que a compra é uma
oportunidade e, ainda pelo Ministério da Defesa já ter garantido os 80 milhões necessários, mesmo
sabendo-se que o navio terá um gasto diário de € 22.000, a navegar. Prova-se
que afinal o Estado está mesmo de cofres cheios. Mas se alguma coisa não correr
conforme o previsto, sempre pode ser colocado na doca seca da Margueira, ao
lado do submarino “Barracuda” e da fragata “Dom Fernando II e Glória”, rendendo
uns cobres. Obrigado;
5 – Estou grato pela
atual tosse persistente – um reflexo natural do meu fabuloso aparelho
respiratório, perante uma irritação – facto que é benéfico, pois ajuda a
expulsar, quase a 100 kms por hora, secreções indesejáveis ou corpos estranhos,
impedindo que se alojem nos meus pulmões. Obrigado.
Segundo Rhonda Byrne,
deveria fazer uma lista diária de 10 bênçãos, durante os 28 dias, mostrando a
minha gratidão – o que seria facílimo – mas apenas quero mostrar que o método
funciona e que podemos ser mais simpáticos e menos rezingões.
Para o trabalho ficar
completo, só me falta dizer três vezes:
obrigado, obrigado, obrigado.
© Jorge Nuno (2015)
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