EM
BUSCA DAS MINHAS PÉROLAS
Sonhei novamente… Mais uma dor
angustiante, agora prolongada ao ombro, pelo bater da coronha da G3. Acabei de despejar definitivamente o último
carregador de balas. Nem me interessa ficar com o tapa-chamas como recordação. Ainda
se ouvem ao longe os ecos dos meus disparos e pouco importa se eu consigo, ou
não, matar o passado. Basta-me ter a cova aberta, preparada para o enterrar!
Fica no ar um “paz à sua alma”, de um passado sem vida e sem cor.
Sem
precisar de ir pelo esgoto, não fujo de terra, em direção ao mar. Simplesmente
parto de terra, procurando uma parte funda do oceano, onde irei mergulhar para
trazer as minhas pérolas. É aí que está a serenidade que preciso, nesse negro
escuro, onde melhor vejo a minha luz interior.
Quando regressar, levitarei sobre as
águas, porque eliminei todo o peso que me oprimia. O sal ter-se-á encarregado
de diluir as mágoas, desilusões, culpa e emoções reprimidas, numa drenagem
psíquica há muito desejada, mas sem a necessária força interior para antes o
conseguir.
Pouco importa a cor do céu, a lua cheia,
as tensões de um mundo incerto ou o que possa influenciar ou agitar as minhas
águas… Não é preciso ter êxito total nos propósitos e muito menos à custa de favores
especiais. Basta pensar e valorizar o esforço despendido na busca das merecidas
pérolas. É a dádiva da vida, que se torna abundante, quando nos tornamos
gratos.
Quando chegar a terra, carregado de um novo
combustível da existência e contigo à minha espera, é hora de saborear. Sei que
os problemas não fugiram, mas sei que finalmente ficarás a conhecer o meu
sorriso, porque, agora sim, sentirei paz no coração!”
Trecho de um trabalho
de prosa poética, elaborado pelo personagem “Filó”, no romance “As Animadas
Tertúlias de Um Homem Inquieto” (que completa agora 3 anos), de
©
Jorge Nuno
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