(IN)VERDADES…
PARA INGLÊS VER
O
Jornal Económico, na presente semana, tem um título assustador: “Tsunami vai
engolir a Península Ibérica”. Para quem lê o título, associaria imediatamente a
sensacionalismo ou a uma brincadeira de mau gosto. Não, garanto que nada tem a
ver com o Dia das Mentiras! Refere o documentário “La Gran Ola (A Grande
Onda)”, realizado pelo espanhol Fernando Arroyo. O próprio terá dito: “esta é a
verdade sobre os tsunamis em Espanha e em Portugal. Podem acreditar… ou não”.
No desenvolvimento da notícia pode ler-se: “será apenas uma questão de tempo
antes que um muro gigante de água atinja a costa de Espanha e Portugal”.
No
princípio dos anos 90, recebi formação na Proteção Civil, em Lisboa; aí ouvi
abordar, também, a eventualidade de haver um enorme tsunami, provavelmente
idêntico ao verificado no terramoto de 1755. Sobre a previsibilidade destes
estudos não creio que se possa falar em verdade ou mentira, nem será uma
questão de fé, ainda mais pelo facto de uma frase retirada do contexto provocar
adulteração do sentido. Pessoalmente, entendo haver a forte probabilidade de
ocorrer um tsunami, em zonas de falhas sísmicas. O problema será real e uma
verdade indesmentível, isso sim, ao não se acautelar essa possibilidade, não
criando as condições de deteção de um fenómeno dessa natureza de modo a
minimizar os estragos catastróficos que venham a ocorrer.
Igualmente
num programa televisivo sobre economia, na RTP3, nesta mesma semana, poderia
ficar pasmado com alguns comentários sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e, por
exemplo, como um desastre ecológico pode fazer aumentar o PIB. Mas não fiquei.
Se seguirmos o raciocínio dos economistas – em que muitos sugerem que “o PIB
distorce a realidade, pois mede a produção, independentemente de ser boa ou má,
desde que haja transação de moeda (ficando de fora a economia doméstica,
informal ou ilegal)” –, então o PIB contabiliza as indústrias poluentes, já que
leva ao investimento posterior na recuperação dos danos causados por essas
mesmas indústrias. Estranhamente, se se juntar uma imensidão de voluntários
para minimizar os estragos… esse trabalho não entra no PIB. Certamente alguém
dirá: “não, não pode ser verdade!”.
E
se acrescentar que nesse mesmo programa televisivo foi dito [com toda a seriedade]
que “a economia grega deu um salto de 25% porque contabilizou a prostituição”?
Estou mesmo a antever a reação: “Oh… este está a dar-me tanga!”.
Também
“no Reino Unido uma hora de sexo paga soma valor para o PIB, mas apenas a
prostituição feminina é considerada atividade económica. A prostituição
masculina não tem a mesma dignidade estatística”. Agora digo eu: “Vá-se lá
saber porquê!”.
A
questão é que “o PIB não faz julgamentos morais: se a prostituição é monetizada
e se a troca for registada, por que não incluí-la?”, foi dito. Poderá não ser
inocente as várias tentativas para legalizar a prostituição em Portugal, claro…
com iniciativa no Parlamento, onde demasiadas vezes se ouvia dizer: “Vossa Excelência
acabou de dizer uma inverdade!”; agora já se vai dizendo: “Vossa Excelência
mentiu!”.
Também parece clara a
afirmação do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem – que diz
ser direto – e disparou, abusivamente, a ideia que “os países do sul gastam
dinheiro em copos e mulheres e depois pedem solidariedade”, para logo referir
que foi mal interpretado e que se referia a si próprio (ao sentir-se fortemente
atacado por todos os quadrantes políticos). Ora bem, se o PIB holandês está
controlado e o PIB português é uma constante preocupação para todos; se no
conjunto de quatro dezenas de países mundiais, Portugal está em sétimo no
número médio de horas de trabalho anuais e a Holanda está em penúltimo; se a prostituição
não está legalizada em Portugal e está na Holanda; se os portugueses continuam
a ter fraquíssimos rendimentos do trabalho comparativamente com os holandeses;
se o senhor Dijsselbloem admite que é ele que gasta dinheiro nos copos e
mulheres, então, tudo isto ajuda a compreender como melhorar o PIB, e que foi
errada a medida de austeridade que ele próprio ajudou a impor em Portugal.
Há
determinados factos incríveis que ocorrem na nossa vida, como algo surreal,
pelo absurdo, que nos sentimos impelidos a mentir (mesmo que seja uma pequena
mentira, sem consequências e perfeitamente evitável); é que ao dizermos a verdade
parece que ninguém acredita, ou fica dúvida no ar. E se formos aldrabões
compulsivos? Bem, para estes há o ditado: “Mais depressa se apanha um mentiroso
do que um coxo”. E se ousarmos mesmo dizer a verdade e não tivermos medo de
cair no ridículo? E se disser que escrevi um poema, em inglês, e que me
asseguraram, em Londres, que o loiro Boris Johnson – o mentor do Brexit – o
leu? Inicialmente, confesso que eu próprio não acreditei, porque não o estou a
ver interessado em poesia. Não tenho a pretensão de dizer que o meu poema teve
algum efeito na decisão desta saída anunciada da União Europeia [UE], o que
seria algo verdadeiramente incrível, por se tratar de um português. Mas verdade,
verdade… é que agora a UE ficou agitadíssima, para não dizer assustada, e o
próprio RU tem no seu seio a Irlanda do Norte em polvorosa (para não variar) e a
Escócia a querer a referendar novamente a “independência”, para regressar à EU
(a lembrar que os fracos não desistem).
Para
que não se pense que estou a “dar tanga”, aqui fica o poema, escrito já em 2012,
a dar [timidamente] razão aos britânicos por não querem estar na moeda única:
POEM FOR THE ENGLISH TO SEE
(Poema para Inglês Ver)
You know, my friend, you
certainly do!...
Our countries have something
in common in the Guinness.
I mean the world’s oldest
diplomatic allegiance.
Which dates back to the war of
Aljubarrota, fought against Castela!
You also know that since then
not everything has been a bed of roses.
There have been clever
opportunistic men in this country,
wanting to connect Angola and
Mozambique
and they called it the pink
map.
Your ultimatum called them to reason
and put an end to their plan
(no wonder, you owned the
world’s biggest Empire!)
that Allegiance and the
African colonies forced us into a World War
against the German expansion,
taking the lives of 10.000
Portuguese citizens.
Putting that aside and forgetting
the competition for global economic interests.
Today, there’s the sun and the
beaches in the Algarve,
The tourism and hotel
business,
in the most representative
Portuguese places,
nightlife, beer, plenty of
beer and football!
Perhaps I didn’t like you that
much…
and I criticized you, I called
you conservative for keeping the pound.
Damn…
you surely were right!
© Jorge Nuno (2017)
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