TEOREMA DO SOUTIEN
Há
dias assim! Quantas vezes já acordámos a trautear uma canção e já depois de
almoço a canção ainda teima em persistir na cabeça, os lábios a mexer e uns
sons a sair, mesmo que em tímida surdina? Mas não, desta vez eu acordei com
algo estranho: “Teorema do Soutien”. Como não me tem saído da cabeça e como não
tenho por hábito rejeitar ideias que surgem do “nada”, mesmo que à partida
pareçam estúpidas, achei por bem fazer com que desse título a esta minha
crónica, claramente ainda sem saber o que fazer com o título.
Em
boa hora aceitei o convite e desafio, do editor da BIRD Magazine, para escrever
crónicas quinzenais. Escrever por “obrigação” e com regularidade, parece algo
estranho, mas para quem gosta do que faz tudo flui com normalidade e qualquer
obstáculo é facilmente ultrapassado. A verdade é que a primeira crónica que
escrevi, para esta revista on-line,
foi publicada em 3 de janeiro de 2015 e totalizaram 73 crónicas até agora!
Nunca me faltou motivação, nem temática. Fazendo uma retrospetiva, deparei-me
com títulos algo estranhos, insólitos ou, simplesmente, apelativos… o que pode
motivar a uma leitura do conteúdo, já que é aguçada a curiosidade. Entre muitos
outros, lembro-me de: “A cigarra alegre e a formiga preguiçosa”; “A morte, o
insólito e a prostituição”; “Quando a raposa guarda o galinheiro”; “Vacas que
riem… vacas felizes”; “As minhas cuecas Channo”; “O Pai Natal escondeu o Menino
Jesus”… Normalmente, parto para a escrita sem me preocupar com o título, ou até
mesmo sem a ideia-chave da mensagem, que vai aparecendo à medida que se vai
caminhando. Desta vez, antes de ligar a ignição para arrancar, já tinha título!
Neste
caso, começo por dizer que não sou especialista em soutiens, não irei falar dos
enormes peitos da auxiliar de ação educativa da escola, nem irei dar destaque ao
encerramento da fábrica da conceituada marca de roupa interior feminina – Triumph
–, embora nesta última parte houvesse muito que abordar, que passaria por palavras
como “desemprego”, “crime económico”… Sim, já que o secretário-geral da CGTP,
Arménio Carlos, considerou tratar-se de “um crime económico, preparado
premeditadamente pela Triumph Internacional, no sentido de fechar a fábrica,
passando por uma fase intermédia, que foi entregar por um ano a produção à
Gramax”; ou então a entrega, no Conselho de Ministros, de uma peça de lingerie pelos trabalhadores da mesma
fábrica, com uma dirigente do sindicato dos têxteis do sul afirmar: “Nós
levámos um cinto de ligas para simbolizar a ida do senhor ministro da Economia
[Caldeira Cabral] à empresa, quando apadrinhou todo este processo, a passagem
da Triumph para a TGI – Gramax”. Como está expresso, foi um “cinto de ligas” e
não um “soutien”, o que obrigaria a mudar o título de “Teorema do Soutien”,
para “Teorema do Cinto de Ligas”, que deixaria de fazer sentido, face ao
ocorrido neste meu acordar.
Lembrei-me que talvez o Diogo
Piçarra tenha acordado a trautear uma canção que não existia, tal como eu com
“Teorema do Soutien”. Como é um compositor e cantor que está na berra, com
muito sucesso, terá entendido, naquele dia do ano de 2016, que valeria a pena desenvolver
a ideia e transformar o seu trautear numa verdadeira canção, digna desse nome, guardá-la
e apresentá-la na altura certa, o que aconteceu no Festival da Canção – agora
revitalizado com a surpreendente vitória de Salvador Sobral na Eurovisão. E
valeu mesmo a pena, pois Diogo Piçarra teve a pontuação máxima do júri e dos
espetadores, na segunda semifinal, e seria uma das canções favoritas à vitória
final. Dois dias depois, senti o estrondo enorme da uma “bomba” ao ouvir falar
da sua desistência deste festival, após pairar no ar a ideia de plágio. Tive
conhecimento que o maestro António Vitorino de Almeida se apressou a ouvir as
duas canções – “Canção do Fim” e “Abre os Meus Olhos” – e a afirmar que a
canção levada ao Festival “não é um plágio, mas igual”, argumentando ainda que
“a música é muito simples, é elementar e nestes casos é mais fácil acontecer
plágios. Mas felicito o músico por nunca ter ouvido um cântico da IURD”. A
Igreja Universal do Reino de Deus, numa nota enviada à agência Lusa, também se
apressou a esclarecer que “não detém qualquer direito sobre a música [‘Abre os
Meus Olhos’] que tem sido comparada com a ‘Canção do Fim’ e que Diogo Piçarra
não tem qualquer ligação à IURD”. Li também que o cântico da IURD é plágio de
uma terceira canção, indicando qual.
Fixando-me nestas duas, ouvi a versão
pelo pastor Walter, no vol II de “Cânticos do Reino” e novamente a “Canção do
Fim”, pelo Diogo Piçarra, e a estrutura musical é a mesma, com uma letra
diferente. Fui à página do Facebook do Diogo Piçarra e li que decidiu terminar
a sua participação no Festival da Canção. Atentamente, apreciei o que escreveu:
– “Não quero deixar de dizer o
orgulho que poderia ser representar o meu país num concurso como a Eurovisão,
mas já não faz sentido nenhum sequer tentar ganhar essa oportunidade. A minha
carreira e vida não depende disto (…)”;
– “A simplicidade tem destas coisas
e só quem não cria arte estará nesta posição. Faz parte da vida de um
compositor e é algo que todos nós iremos ’sofrer’ a vida toda (…);
– “A minha consciência está tranquila na
medida em que eu próprio sou quem está mais surpreendido no meio disto tudo:
nasci em 1990, não sou crente nem religioso, e agora descobrir que uma música
evangélica de 1979 da Igreja Universal do Reino de Deus se assemelha a algo que
tu criaste, é algo espantoso e no mínimo irónico (…)”.
Mais tarde, numa entrevista na TV,
gostei da sua postura, do seu ar sereno, a mostrar elevação.
Para não vir também a ser acusado
de plágio, fui pesquisar “Teorema do Soutien”, no Google, e encontrei coisas
dispersas, ora relacionado com “Teorema” ora com “Soutien”, mas não a junção
dos dois. Intimamente, esperava que alguém já tivesse descoberto esse teorema,
o que me levaria a dizer que “já não faz sentido nenhum ganhar a oportunidade de
criar o teorema” e punha um ponto final no assunto. Assim, estou à vontade para
prosseguir com a minha investigação, quem sabe… relacionando tamanho e peso dos
seios com a elasticidade do material, para chegar a conclusões mais profundas
relacionadas com a própria vida. Até lá.
© Jorge Nuno (2018)
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