ESTRANHO PAÍS…
– se chega a propor a
entrega de um botão antipânico aos estrangeiros que permaneçam temporariamente
à guarda do SEF[1]
nos aeroportos nacionais, para os proteger da agressividade da própria polícia
de fronteira;
– agentes da PSP[2] e militares da GNR[3] se “guerreia” sobre as
competências territoriais, relacionadas com a escolta de uma carrinha especial
usada para transporte de vacinas, com bloqueio da mesma em Évora, quando seguia
de Coimbra para o Algarve, onde viria a chegar, com bastante atraso, podendo
ver-se essa viatura escoltada por seis carros e duas motos da PSP e duas
carrinhas da GNR, e o MAI[4] forçado a pedir a abertura
de um “inquérito urgente” ao IGAI[5], para apurar o sucedido;
– quando detinha o maior
índice de mortalidade na Europa, surgem equipas médicas do Luxemburgo, França e
Alemanha, a revelar solidariedade e a dar um contributo, mesmo que simbólico,
no combate à pandemia, e se impeça, pela via administrativa, a colaboração
voluntariosa e solidária de médicos reformados portugueses, que se
prontificaram para ajudar quem tanto precisa de cuidados médicos, colocando a
possibilidade de, não sendo na linha da frente, terem tarefas de apoio aos
médicos de família, nem que fosse nos inquéritos epidemiológicos; esta falta de
resposta e indiferença, por parte de quem se escuda nas regras, pode ser
considerada insultuosa para estes médicos e para os portugueses, e passa um mau
sinal a todos aqueles que, em momentos críticos, sentem genuína vontade de
ajudar;
– quando se anuncia que
se perdeu quase 17 milhões de turistas em Portugal, em 2020, por causa da
pandemia, fica-se a saber, ironicamente, que a cidade de Braga foi eleita como
o “melhor destino europeu [2021] para visitar”, numa
altura em que a maioria dos hotéis estão fechados, tal como a totalidade dos
restaurantes, pelas mesmas razões, impossibilitando os turistas de a visitar e
ficar com a ideia de que a escolha é acertada;
– forçado pelo presidente
da República – que quer que se vendam livros – o Governo elabora e aprova um
decreto-lei, definindo que a venda será possível em todos os espaços que têm
permissão para estar abertos (como p. e. os hipermercados ou lojas tipo FNAC) e
deixa de fora as livrarias, que unicamente estão devotadas à venda de livros,
ficando assim impedidas de o fazer, tal como fica a Autoridade da Concorrência
impedida de assegurar a aplicação das Leis da Concorrência, que se quer
saudável; mais estranho ainda… quando o primeiro-ministro diz ter feito “a
vontade ao senhor presidente da República, que o proibiu de proibir”;
– no final do ano de 2019
se apregoava o “milagre económico” do país, em boa verdade, alavancado pelo
turismo, e agora, o BdP[6], anuncia que a dívida do
Estado, das empresas e das famílias atingiu um recorde de 745.800 ME[7] em 2020, com acréscimo de
24.900 ME no endividamento do setor público, face a 2019, situando-se em
342.500 ME, e do aumento de 2.500 ME no endividamento no setor privado, a
atingir o total de 403.300 ME neste setor; prova-se que a atual situação é bem
pior do que em 2008, altura em que a Troika regressou a Portugal, para
“castigar” quem gasta acima das suas possibilidades;
– após difíceis
negociações, foi anunciada a aprovação de verbas significativas, na denominada
“bazuca” europeia, e a criação do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência
(em consulta pública), com cerca de 13.900 ME de subvenção a fundo perdido e
2.700 ME a conceder pela UE[8], a título de empréstimo;
lembra-se que tinham sido inscritos, no documento inicial, 4.300 ME como pedido
de empréstimo… só que este vai fazer aumentar a dívida soberana do Estado e o
próprio OE[9] de 2021 e seguintes, e
lembra-se, também, que em 2023 haverá eleições legislativas, caso não sejam
antecipadas;
– depois de António Costa
Silva ter sido convidado como consultor do Governo, vindo a elaborar o
documento “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal
2020-2030”, que enquadrou o orçamento de 2021, ouviu-se um membro do mesmo
Governo – o ministro do Planeamento – numa audição parlamentar, face à entrada
do dinheiro da “bazuca” e como estaria ser planeada a sua utilização, esclarecendo
que não é possível usar esse dinheiro em apoios de emergência, para mitigar o
impacto da pandemia, pois esse dinheiro destina-se a concretizar reformas,
logo, fica-se com a ideia que, com pandemia, não é possível Portugal ter um
plano de recuperação económica;
– se sabendo da súbita
recessão económica, derivada da pandemia, e que quando não se combate a crise,
agrava-a, estranha-se que após muitas promessas de investimento, não se
verificasse a execução orçamental de 2020, incluindo o orçamento retificativo –
a velha história das políticas de cativação – levando os ministérios a reter 6.866
ME, o que inviabilizou que a estratégia económica – a haver – tenha resultado;
entretanto, deixou Portugal em 3.º lugar, entre os países da EU que menos
gastaram no combate à crise, facto que teve pesados efeitos económicos e
sociais, levando ao crescimento das desigualdades e ao aumento da pobreza.
© Jorge Nuno
(2021)