19/10/2012

No Rasto de La Fontaine ou a Alquimia da Felicidade


Mãos Sagradas, foto recolhida de FotoSearch - Banco de Imagens

NO RASTO DE LA FONTAINE
OU A ALQUIMIA DA FELICIDADE

Era uma vez… no reino distante do Chumbo, quando predominava a noite escura da alma. O corvo “Black”, o veado “Chifrudo”, o peixe “Escamudo”, o pardal de telhado “Beirão”, o leão verde “Green” e a salamandra “Sandra”, fartos das queixas dos humanos, eternamente relacionadas com as suas dolorosas experiências de vida e, desta, com muitos pedaços perdidos, resolveram analisar a situação de modo a possibilitar transformação interior e fazer com que os humanos se sentissem mais felizes.
            Sempre que se fala em crise, os humanos ficam cheios de medo, mas é preciso entender que ela traz as necessárias sementes da transformação. Só vejo uma solução: Temos que pensar na fase de putrefação do processo alquímico. Há que começar por fazer a necessária alquimia transformadora, mudando algum chumbo no ouro da consciência de cada um Diz o Black, parecendo mostrar-se à vontade para falar deste assunto.
            Como elemento água, não sei se haverá tábuas de salvação, mas eu posso dar uma ajuda… um jeitinho para banhar a matéria-prima Diz o Escamudo, com a convicção que poderia não ser assim tão fácil, mas havia que tentar.
            Atalha logo o Chifrudo Como elemento terra, estou como diz o Escamudo, porque nos trilhos não há indicação do caminho, mas vamos tentar fazer alguma coisa.
            Separemos o trigo do joio, o que queremos e depuramos, pois há que clarificar as coisas com menos sofrimento Diz o Beirão, convencido que mesmo sem tabuletas a indicar o caminho, estaria no caminho certo para a solução do problema.
            Retemperem-se os sinais do desafio pelo fogo, pois só assim haverá renascimento da vida Diz a Sandra, muito senhora do seu focinho.
            Eu acho que chegou mesmo a hora de rever conceitos e não tenho dúvida que os humanos vão ter que fazer um trabalho profundo com o ego. Vocês sabem que eu represento o sal, como dissolvente universal, para outros sou o arsénico, mas independente disso eu estou ligado à energia vital, que une corpo e alma. Temos um árduo trabalho pela frente e de nada vale pedirmos que autorizem uma comissão de trabalho e esgotar tempo com a questão de liderança. E que tal começarmos já por utilizar o princípio volátil, inerte, que tem propriedades de combustão e corrosão de metais, juntando-o ao princípio fixo, ativo? Diz o Green, começando logo a afiar as unhas, para se atirar ao trabalho.
            Enquanto a Sandra começava a esboçar um esforço para atiçar o fogo, fez-se algum silêncio. Um deles olha instintivamente para o céu e depois olha para os restantes e diz Há aqui qualquer coisa errada… não acham? Os outros abanam a cabeça, negativamente, pois não estavam a ver qual era o problema. E continua Podemos estar cheios de boas-intenções mas não veem o que nos falta? Continuou o abanar negativo das suas cabeças Então? É a matéria-prima! Conclui.
            Ahhh… pois é! Dizem quase todos ao mesmo tempo.
            Assim, não dá… pois não Diz desconsolado o Green, mas levanta logo ânimo e continua Parece que a solução é ser mesmo o humano a fazer a sua própria experiência, para provocar a sua transformação interior. E se a fizer bem feita, não parece haver dúvidas que resulta. Estou mesmo a vê-lo a sentir os raios dourados que se soltam do cadinho, em processo de síntese interna e que emergem após a conexão do eu consciente e o self divino. Depois disso é fácil captar energia, cocriar novas experiências necessárias à condução do seu destino. Feito o renascimento espiritual, o homem poderá dizer que fez a alquimia da felicidade e viverá feliz para sempre… nesta e noutras vidas.

Jorge Nuno (2012)

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