OU A ALQUIMIA DA FELICIDADE
Era uma vez… no reino distante do Chumbo, quando predominava a noite
escura da alma. O corvo “Black”, o veado “Chifrudo”, o peixe “Escamudo”, o pardal
de telhado “Beirão”, o leão verde “Green” e a salamandra “Sandra”, fartos das
queixas dos humanos, eternamente relacionadas com as suas dolorosas experiências
de vida e, desta, com muitos pedaços perdidos, resolveram analisar a situação
de modo a possibilitar transformação interior e fazer com que os humanos se
sentissem mais felizes.
– Sempre que se fala em crise, os humanos ficam
cheios de medo, mas é preciso entender que ela traz as necessárias sementes da
transformação. Só vejo uma solução: Temos que pensar na fase de putrefação do
processo alquímico. Há que começar por fazer a necessária alquimia
transformadora, mudando algum chumbo no ouro da consciência de cada um – Diz o Black, parecendo mostrar-se à vontade para
falar deste assunto.
– Como elemento água, não sei se haverá tábuas de
salvação, mas eu posso dar uma ajuda… um jeitinho para banhar a matéria-prima – Diz o Escamudo, com a convicção que poderia não ser
assim tão fácil, mas havia que tentar.
Atalha logo o Chifrudo
– Como elemento terra, estou como diz o Escamudo, porque
nos trilhos não há indicação do caminho, mas vamos tentar fazer alguma coisa.
– Separemos o trigo do joio, o que queremos e
depuramos, pois há que clarificar as coisas com menos sofrimento – Diz o Beirão, convencido que mesmo sem tabuletas a
indicar o caminho, estaria no caminho certo para a solução do problema.
– Retemperem-se os sinais do desafio pelo fogo, pois
só assim haverá renascimento da vida – Diz a
Sandra, muito senhora do seu focinho.
– Eu acho que chegou mesmo a hora de rever conceitos
e não tenho dúvida que os humanos vão ter que fazer um trabalho profundo com o
ego. Vocês sabem que eu represento o sal, como dissolvente universal, para
outros sou o arsénico, mas independente disso eu estou ligado à energia vital,
que une corpo e alma. Temos um árduo trabalho pela frente e de nada vale pedirmos
que autorizem uma comissão de trabalho e esgotar tempo com a questão de
liderança. E que tal começarmos já por utilizar o princípio volátil, inerte,
que tem propriedades de combustão e corrosão de metais, juntando-o ao princípio
fixo, ativo? – Diz o Green,
começando logo a afiar as unhas, para se atirar ao trabalho.
Enquanto a Sandra
começava a esboçar um esforço para atiçar o fogo, fez-se algum silêncio. Um
deles olha instintivamente para o céu e depois olha para os restantes e diz – Há aqui qualquer coisa errada… não acham? – Os outros abanam a cabeça, negativamente, pois não
estavam a ver qual era o problema. E continua – Podemos
estar cheios de boas-intenções mas não veem o que nos falta? – Continuou o abanar negativo das suas cabeças – Então? É a matéria-prima! – Conclui.
– Ahhh… pois é! – Dizem quase todos
ao mesmo tempo.
– Assim, não dá… pois não – Diz desconsolado o Green, mas levanta logo ânimo e
continua – Parece que a
solução é ser mesmo o humano a fazer a sua própria experiência, para provocar a
sua transformação interior. E se a fizer bem feita, não parece haver dúvidas
que resulta. Estou mesmo a vê-lo a sentir os raios dourados que se soltam do
cadinho, em processo de síntese interna e que emergem após a conexão do eu
consciente e o self divino. Depois disso é fácil captar energia, cocriar novas
experiências necessárias à condução do seu destino. Feito o renascimento
espiritual, o homem poderá dizer que fez a alquimia da felicidade e viverá
feliz para sempre… nesta e noutras vidas.
Jorge Nuno (2012)
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