Burros -Imagem retirada da Internet
NO RASTO DE LA FONTAINE
OU
O MÁGICO REINO DOS BURROS
Era uma vez… um mágico reino dos burros. Era um reino faz-de-conta como
muitas tantas repúblicas com democracia faz-de-conta em que, apesar de tudo,
como burros foram espertos ao dividir o planeta ao meio e querer ficar com
metade.
Nesse reino, havia um rei chamado Tomásio e um simpático e desconhecido
burrinho pequenino, chamado “Doce”. O Doce foi crescendo e quando chegou à fase
de adolescência houve uma situação conturbada no mágico reino, tornando-o ainda
mais mágico.
Os burros andavam todos eufóricos e durante um curto período de tempo,
passaram vários reis pela cadeira do trono. Nessa altura o Doce esteve dois
anos sem ir à escola e teve passagem administrativa. Como aquilo era um tédio,
fez-se membro da Juventude Nacional [JN], que sustentava um dos partidos que
alternava na governação do reino e continuava a passar as tardes a jogar às
cartas, com muitos amigos, onde faziam campeonatos de king e sueca, debaixo de
grande animação.
Mais tarde, após liderar a JN, o nosso simpático Doce foi eleito para as
Cortes e viria a arranjar sucessivos empregos (e até em simultâneo) bem
remunerados, em empresas de amigos ligados ao partido, o que lhe fazia aumentar
ainda mais o número de amigos.
Ainda ao tempo da JN, fez uma sólida amizade com outro jovem chamado
Prado. O jovem burro Prado era uma personagem muito curiosa, senão vejamos: pertence
a uma sociedade secreta e frequentou três universidades privadas, em quatro
cursos superiores diferentes e numa dessas universidades até ficou a dever
dinheiro das propinas.
– Eh pá, então não te safas nas notas? – Diz o jovem Doce para o amigo.
– Deixa-me lá, aquilo é demais para a minha cabeça – Lamenta-se o Prado,
embora não seja de estranhar no reino de burros.
– Eh pá, a gente arranja aí um esquema, tudo legal!... Está descansado.
Eu na escola passei também em dois anos, administrativamente, e não houve
problema nenhum. Tudo legal! – Lembrou o Doce.
Passado pouco tempo o Prado já era, administrativamente, doutor.
Foi parlamentar, fez carreira em vários cargos e, espante-se, até foi
presidente da Assembleia-geral de uma Associação de Folclore! Reformado de parlamentar,
voltou ao ativo para um cargo governativo, como braço direito do amigo Doce.
O Doce chegou a primeiro-ministro deste mágico reino, com quase metade de
abstenções, com os burros muito satisfeitos pelo outro anterior
primeiro-ministro ter saído do país e em que terá ficado com muito dinheiro num
offshore. Tudo legal, neste mágico reino!
Garantem os guardiões do templo que têm a constituição bem guardada na
gaveta, não vá alguém mal-intencionado querer molestá-la.
Moral da história? Bem, podem tirar-se muitas, mas fiquemo-nos apenas
por uma:
– Se este tipo de burros chegam a tão altos cargos no reino e se se mantêm
lá, não é de admirar. É porque todos os outros são mesmo burros!
Jorge Nuno (2012)
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