FAMÍLIA PIMPAREL
Entre judeus, cristãos-novos e cristãos
Vai-se
ouvindo dizer que “podemos escolher os amigos, mas não a família” ou, também,
“os amigos são a família que nós escolhemos”. Benditos aqueles que não tendo
escolhido a família, têm os familiares como amigos; a vasta família Pimparel é
um exemplo disso, entre aqueles que têm oportunidade de se conhecer e privar no
dia a dia ou em encontros esporádicos promovidos, ou ainda outros, mais ou
menos casuais.
Tantas vezes foi questionado, por membros
desta família, a proveniência do nome Pimparel e da própria família, ouvindo-se
uns zunzuns, passado de boca em boca pelos mais antigos até ao presente, quase
a medo, que se tratava de uma família de origem judaica; a alguns deles, devido
à Inquisição, terá sido imposto a “conversão” a cristãos-novos e hoje, passado
cerca de 500 anos, há predominância de cristãos. Na verdade, ao tempo do rei D.
João III, há o relato de um André Gonçalves Pimparel, que se pode ler num documento
preparado por Maria José Ferro Tavares (professora catedrática aposentada),
intitulado “Entre religiões e negócios, a sobrevivência” e que, com base num
documento da Inquisição de Lisboa (PT-TT-TSO/IL/28/57, fot. 9-10) diz o
seguinte: “(…) André Gonçalves Pimparel fora viver para a Turquia onde se
fizera judeu e nesta fé morrera. Enquanto fora vivo escrevia cartas aos filhos,
aos netos e a outros cristãos-novos que tinham ficado em Miranda do Douro,
estimulando-os a perseverarem na fé judaica.
Também um artigo assinado por António
Júlio Andrade e Fernanda Guimarães (com livros publicados e tendo como fonte
IANTT - Inquisição de Lisboa, processo 2181, de Lopo de Leão) refere André
Gonçalves Pimparel como uma “figura mítica do movimento messiânico desencadeado
por David Reubini (judeu originário da Índia e aclamado como o Messias
prometido (…)” e que depois deste ter caído em desgraça, levou a que o Pimparel
– um dos seus principais seguidores – se visse forçado a seguir para a Turquia,
por terra, com um dos “seis salvo-condutos emitidos em 21.6.1526 pelo rei D.
João III (…). Este Pimparel terá partido para o Golfo (Turquia?) e publicamente
regressado ao judaísmo, ele que havia nascido judeu e fora um dos ‘batizados em
pé’ ”.
Num documentário preparado por José
Rodrigues dos Santos (jornalista e escritor), passado na RTP 2, veem-se algumas
incursões deste por terras do nordeste transmontano, particularmente em Carção
e Argozelo, assim como pelo Arquivo Distrital de Bragança, em demanda das suas
origens, e terá concluído que também tem antepassados, de origem judaica e de apelido
Pimparel.
O
guarda-redes Beto, jogador da Seleção Nacional de Futebol e atualmente ao
serviço do Sevilha, demonstra orgulho neste seu apelido, tal como qualquer dos
Pimpareis que se conhece.
Sabe-se que, na primeira metade do século XX, vários membros desta família detinham, maioritariamente, pequenas áreas de negócio – caraterística de judeus –. Atualmente, os seus descendentes têm vindo a conseguir cargos de relevo, nas mais variadas profissões em diversas cidades europeias e de outros continentes, embora sem o “estrelato” atribuído a quem aparece frequentemente nos media. Atualmente o nome Pimparel está disseminado por todo o Portugal (com maior quantidade em Trás-os-Montes) e também no estrangeiro, com núcleos familiares conhecidos na Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América, França, Reino Unido, Sérvia, Suíça,…
Membros desta família – alguns sem se
conhecerem –, criaram e começaram a fazer circular árvores genealógicas das
ramificações que conheciam (por mensagens nas redes sociais), para juntar as
várias “peças do puzzle” e obter uma visão mais alargada da extensão da
família.
Em
boa hora partiu a ideia da realização de um primeiro almoço-convívio, por
Ricardo dos Santos Pimparel, que se realizou em Bragança em 15 de agosto de
2014, e juntou cinquenta e dois membros desta família, com muitas crianças que
ostentam o Pimparel no seu cartão de cidadão, estreitando laços familiares. O “motor”
deste evento, em termos organizativos, foram a Lena Pimparel e a Laura
Pimparel, primas afastadas (até fisicamente, em cerca de 400 km) e que até há
pouco tempo não se conheciam. Para o mesmo dia e mês, em 2015, está previsto o
segundo almoço-convívio, igualmente em Bragança.
Como qualquer outra família, nos imensos
núcleos familiares desta, em particular, haverá: venturas e desventuras;
alegria e momentos menos bons; solidez de relações e abalos ocasionais. Mas no
reencontro sobressai o elo forte da amizade, num carinho comovente, a
ultrapassar as meras relações familiares (ou o pretexto dos laços de sangue),
fazendo-nos experienciar o verdadeiro sentido da vida – nesta caminhada de luta
diária – onde nos deparamos, naturalmente, com o tempero de afinidades,
cumplicidades, simplicidade e muita fraternidade, valores inestimáveis a
preservar para uma vivência mais suavizada e agradável.
© Jorge Nuno (2015)
(casado com uma Pimparel, tendo dois filhos e
dois netos com o mesmo apelido).
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