A
PEDRA DE AMOLAR DA VIDA
Em
cada mudança de ano repetem-se sorrisos, abraços, um extremar de simpatias com
amigos reais e virtuais, e a manutenção de alguns rituais apelidados de
tradições. Entre estes, estão as doze passas de uva e a manifestação de desejos
ocultos (ou não), na esperança milagrosa, para não lhe chamar ilusão, que
“agora sim, neste novo ano, se realizem…” para, tendencialmente, daí a poucos
dias se entrar, novamente, nas rotinas habituais. Afinal, já passaram quinze
dias e quanto à dieta, para reduzir o peso… nada; é aquela atividade física salutar
em grupo, arrastada (propositadamente) para ter início logo após a passagem de
ano, a pretexto de se aproveitar para queimar calorias… ficando agora a
desculpa de não haver tempo, sequer, para se ir fazer a inscrição no ginásio; ficou
a vontade de mudar de emprego, por falta de realização pessoal e por já não se
suportar mais a arrogância do chefe, assim como ficou o C.V. por enviar para
outras empresas… por não se ser capaz de ousar e preferir “não trocar o certo
pelo duvidoso”; quanto ao deixar de fumar… apenas se acaba de mudar de marca de
tabaco, já que a Tabaqueira resolveu, para já, extinguir quatro marcas, a
juntar a algumas dezenas já descontinuadas, prevendo-se alterações a curto
prazo no SG Gigante e SG Filtro, assim como novo aumento no preço do tabaco
(que poderia ser tão ou mais encorajador para deixar de fumar do que a genuína
vontade intrínseca).
Parece
evidente não haver fórmulas mágicas, mas creio que esse alcançar dos objetivos
depende da “fibra” de cada um: há pessoas que definem os seus objetivos e tudo
fazem para os alcançar, com imenso esforço pessoal; outras manifestam uma ténue
vontade, na expetativa que as coisas aconteçam, e ficam o resto do tempo a
queixar-se, ou a desculpar-se, pelo facto de tudo ter ficado na mesma, ou pior; encontram-se, também, algumas excepções
de quem consegue muito, parecendo que tudo lhe cai do céu, com um dispêndio mínimo
de esforço, seja com recurso a deploráveis atropelos indiscriminados, à
frequente exibição do emblema partidário ou apenas deixar fluir, e esperar que as
coisas, simplesmente, venham a acontecer (sem conotação com passividade). Essa
“fibra” – que se traduz no perfil de cada um, e que varia, naturalmente, de pessoa
para pessoa – ficou muito bem expressa por George Bernard Shaw (e que me serve
de guia há muitos anos): “A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou
afia-nos, conforme o metal de que somos feitos”.
Sempre
me vi um lutador e ao fim de mais de 60 anos questiono-me se estive certo,
quando me via, em limite de esforço, a “remar contra a maré”, mesmo com bastantes
vezes a obter sucesso, o que me fazia experienciar, depois da “tormenta” uma
sensação agradável de alívio, por achar que teria chegado a “porto seguro”. É
que a vida ensinou-me muita coisa e agora vejo as coisas sob outro prisma.
Adoro a palavra “fluir”, e nesta fase da vida é o que me apetece – deixar fluir
– podendo dar-me ao luxo de, mesmo sabendo aquilo que quero, acreditar que
aquilo que acontece é o melhor para mim. É que há coisas estranhas, que tantas
vezes nos escapam. É a mulher que faz um esforço tremendo para engravidar, sem
conseguir, para logo após ter desistido de lutar por esse objetivo, sem
ansiedade e a fazer a sua vida normal, acabar por receber a boa-nova, através
do teste de gravidez positivo; é o homem, que fez tudo ao seu alcance para obter
aquele lugar a que tanto aspirava, vê-se desalentado ao ver esse cargo ser
ocupado por outra pessoa, e quando já está conformado, surge-lhe uma
oportunidade de emprego ainda melhor. Os exemplos poderiam ser muitos…
Quando em 2012 criei um dos meus blogues,
neste caso com o endereço http://jorgenuno-art.blogspot.pt/,
fiz questão de colocar na capa os seguintes pensamentos orientadores:
– Tal como Paulo Coelho... gosto de
"imaginar uma nova história para a minha vida e acreditar nela";
– Tal como Kant... gosto de
"acreditar em milagres, mas não depender deles";
– Tal como Júnior Montalvão... admito
que "a inspiração vem de outros [de aquém e do Além], mas a motivação vem
de dentro de mim";
– Tal como Albert Schweitzer... admito,
por experiência própria, que "se amar o que faço, então serei bem
sucedido" e que "o êxito não é a chave da felicidade, mas a
felicidade é a chave do êxito";
– Tal como Madre Teresa de Calcutá...
gosto de pensar que "a Vida é um sonho, daí que o procure realizar" e
que "a Vida é mistério, daí que o procure aprofundar";
– Tal como Santo Agostinho de Hippo...
admito que "a fé significa acreditar naquilo que ainda não vejo, e que a
recompensa por essa fé é ver aquilo em que acredito";
– Tal como Wallace Watles... admito que
"a mente grata espera continuamente coisas boas e a expetativa torna-se
fé";
– Tal como Lao-Tsé... admito que
"quando perceber que não há falta de nada, o mundo pertencer-me-á";
– Tal como Joemar Rios... gosto de
pensar que "o tamanho das minhas bênçãos são determinadas pela grandeza
das minhas virtudes";
– Tal como Michael Neill... admito que
"estar totalmente atento ao que existe é estar contente e estar contente é
ser abençoado por tudo o que acontece na vida"
– Tal como Osho... gosto de "usar
as minhas energias para tornar um mundo mais belo, mais poético e mais
saudável" e admito que "não se pode ser um criador se não se for um
meditador";
– Tal como Mahatma Gandhi... tenho
consciência que "precisamos de nos tornar na mudança que desejamos ver no
mundo."
– Tal como Fernando Sabino... admito
que "no fim de tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou
ao fim".
Pode ser que contribua para nos
transformar positivamente, conseguir uma melhor dosagem dos desejos e objetivos,
obter um pouco mais de sucesso pessoal e profissional (com um pouco menos
esforço), ajudar a enfrentar a pedra de
amolar da vida e fazer-nos rejubilar por ela nos afiar, quando
anteriormente nos desgastava.
© Jorge Nuno (2016)
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