O
FASCÍNIO DOS MUSEUS
Em
2006, com o surgir do primeiro filme intitulado “Uma Noite No Museu”, reforçado
com os dois seguintes, muita coisa mudou na vida (por vezes pacata, descolorida
e “às moscas”) dos museus. Nesse filme, um bom elenco de atores, de que fazia
parte o saudoso e talentoso ator Robin Williams, no papel da estátua de cera de
Theodore Roosevelt que ganhou vida, tal como todas as personagens presentes,
animaram a noite de um segurança no Museu de História Natural. Essa fantasia, à
mistura com ação, muitos efeitos especiais e um humor bem conseguido, fez com que
as pessoas, que viram o filme, não mais olhassem para os museus como cemitérios
de coisas do passado, que ficavam ali guardadas como se se tratasse de um
arquivo morto.
Não
deixa de ser estranho como demorou tanto tempo a compreender a necessidade de
revitalizar esses espaços e a querer conhecer melhor os públicos que os
frequentam, estudando o seu perfil e comportamentos, já que se trata de
equipamentos com forte importância estratégica ao nível da cultura e do
turismo, tanto localmente, como a nível regional e nacional. E é dentro desta
estranheza que tivemos conhecimento da realização, há cerca de um ano, do
primeiro estudo de públicos de museus em Portugal. Este estudo teve como principal
objetivo “conhecer os públicos de 14 museus tutelados pela Direção-Geral do
Património Cultural [DGPC]”, sendo esta “uma amostra representativa dos
visitantes de museus nacionais” e “uma matriz para que os 146 museus da Rede
Portuguesa de Museus sigam as novas diretrizes”, elaboradas com suporte nos
resultados do estudo, tendo em vista a “definição de estratégias para captação
e fidelização dos visitantes dos museus tutelados pela DGPC, bem como a
implantação de políticas culturais que melhorem o acesso à cultura, aos museus
e às suas coleções”. A meta era obter 30 000 respostas de visitantes, através
de formulários on-line em
computadores instalados nos próprios museus. Realizou-se entre dezembro de 2014
e dezembro de 2015, mas a meta ficou aquém. Mesmo assim, tratou-se de uma
amostra significativa, com 13.583 respostas validadas, que deu origem a
resultados interessantes. O tratamento de dados e análise de resultados esteve
a cargo do Instituto Universitário de Lisboa / ISCTE. A divulgação foi feita há
poucos dias pelo coordenador científico do projeto, numa conferência de
imprensa no Palácio da Ajuda, com a presença do ministro da Cultura, numa data
importante: o Dia Internacional dos Museus, que se comemora em 18 de maio.
Segundo
o estudo, no período em que decorreu (com a duração de um ano), estes 14 museus
tiveram um total de 1 232 258 visitantes, sendo que 640 804 eram cidadãos
provenientes do território nacional e 591 454 eram provenientes de cerca de uma
centena de países, o que significa que foram os estrangeiros – 53% – os
principais frequentadores destes espaços culturais, ficando os portugueses
pelos 47%. Quanto aos primeiros, destaca-se uma maior presença de franceses,
como visitantes. Constatou-se, genericamente, como perfil dos visitantes, que:
são as mulheres as mais entusiastas na ida aos museus; também as pessoas mais
escolarizadas; há uma franja significativa de jovens (a partir dos 15 anos –
idade a partir da qual era possível responder). Também indicia haver uma quase
total satisfação com o acolhimento dos funcionários dos museus (98%). Fica a
ideia que 37% dos inquiridos espera pelos dias em que há gratuitidade na
entrada para efetuar a visita (uma possibilidade a não descurar por quem tem
dificuldade em deixar de lado uns euros para investir em cultura) e, entre
outros, ficam indicadores de insatisfação para correção, quanto a: divulgação
nas redes socias e páginas web; informação sobre visitas guiadas; mais uns
quantos aspetos que, ao serem corrigidos, podem contribuir para melhorar o grau
de satisfação do visitante e contribuir para a fidelização em museus de
proximidade, os quais vão disponibilizando exposições temporárias.
Pegando
na ideia do citado filme, e porque hoje é oficialmente a “Noite dos Museus”,
existe um variado leque de opções por todo o território nacional.
Certamente
haverá um museu por perto… Que tal aproveitar para sair e experienciar uns
momentos agradáveis e diferentes, como forma de quebrar a rotina? Quem resiste
a este “cheirinho”?
- Bragança – Museu Abade de Baçal – 22h00: “Imagens e Sons no Museu”
(concerto de banda de música, com animação e luzes);
- Faro – Museu Municipal de Faro – 21h30 e 23h00: “O Saco do Homem do
Saque” (divertida encenação sobre os ataques das tropas inglesas há 420 anos);
- Guimarães – Museu de Alberto Sampaio – 21h30: “Assim Nasceu
Guimarães” (viagem no tempo, através do teatrinho de sombras, entre outros
programas);
- Lisboa – Museu da Água – das 18h00 às 23h00: “Os Fantasmas do
Loreto” (visita na galeria subterrânea e animação histórica);
- Porto – Museu Nacional de Soares dos Reis – 21h30: “Um Olhar Sonoro
Único – venha escutar pinturas e esculturas” (interpretação de vários tipos de
gaitas de fole, acompanhado de outros instrumentos);
- Vila Real – Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real – das
15h00 às 18h00: “Memória Sustentável – Concerto e Documentário” (cantares e
melodias dos grupos etnográficos da região, nas ruas, a partir do Museu da
Cidade Velha);
- Viseu – Museu Nacional Grão Vasco – 21h00: “Banda Sinfónica do
Exército” (concerto para comemorar o centenário do museu)
(…)
Como
seria exaustivo descrever tão significativo número de eventos, incluindo os que
se realizam em museus municipais e regionais, numa clara adesão a esta
iniciativa em 2016, pode ler-se a programação geral na agenda do site da DGPC e aqui fica o respetivo link para consulta:
Se não já não for a tempo de ir hoje à noite… nesta
noite especial, há que visitar um museu num outro dia, pois são fonte de
cultura e têm um fascínio irresistível.
©
Jorge Nuno (2016)
Crónica saída hoje na BIRD Magazine, em que há "Noite nos Museus".