HOJE
É DIA DE PEQUENA CRÓNICA – COMO É POSSÍVEL?
Há muito que ando para escrever uma
crónica pequena e não consigo. Tenho consciência que quanto maior for a crónica
menos as probabilidades de ser lida, já que há a tendência natural para desencorajar
a leitura até ao fim, mesmo que o tema seja entusiasmante para quem escreve e
para quem lê; e só gosto de escrever sobre o que me entusiasma. Assim, faço
hoje um apelo interno à minha capacidade de síntese para a encurtar e, reparo,
com esta introdução já ocupei [até aqui] seis linhas e vou escrever sobre algo
que não me entusiasma, já para não aplicar a palavra “fascina”! Vamos então ao
que interessa, se é que interessa.
Em surdina, tenho andado a remoer: “como é
possível, num país com a grandeza dos Estados Unidos da América, o Partido
Republicano não ter conseguido eleger um candidato credível e consensual, de
modo a sentir-se que será o presidente de todos os americanos?”; “como é
possível um candidato presidencial [o mesmo, de referido partido] avançar para
uma campanha, baseada no improviso, sem a estratégia do próprio partido?”; “como
é que um candidato, com aquele perfil, foi capaz de vencer as eleições
presidenciais?”; “como é possível um candidato eleito agitar tanto o mundo,
deixando-o à beira de uma ataque nervos?”; “como é possível o presidente
cessante dizer adeus à Casa Branca com um índice de popularidade de 60% e um
presidente a tomar posse no cargo com o referido índice nos 40%?”; “como é
possível um candidato eleito ter aberto frentes de hostilidade contra países da
União Europeia, países tradicionalmente amigos, e fazer um novo inimigo de
estimação – a China?”; “como é possível um país, com serviços de inteligência e
meios tecnológicos sofisticados, deixar que outro país – com quem mantém uma
“guerra fria” de muitas décadas – consiga desvirtuar a intenção de voto e,
depois disso, surgir como país amigo?”.
Bem posso questionar!...
Valha-nos ao menos, por cá, a vitalidade e
popularidade do interventivo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que,
mantendo-se em elevado estado de graça, surge a todo o instante em todo o lado,
distribuindo afetos, beijos, abraços e tirando selfies sempre com um sorriso, incluindo apanhar roupa da corda a
uma idosa, enquanto dialogava com ela, ou uma ida ao encontro de sem-abrigo,
numa noite gelada. Este perfil, faz com que seja o político mais perto do povo
(apesar de sempre ter pertencido às elites) e obtenha o maior índice
de popularidade de toda a classe política; no final do ano anterior, chegou a
bater todos recordes de popularidade (desde que existe o barómetro da
Universidade Católica Portuguesa), com uma notoriedade de 99% e 97% de
avaliações positivas, através de inquirição do CESOP – Universidade Católica. Então
o contraste é claramente enorme quando se pensa na má imagem de Cavaco Silva na
hora de saída do cargo, avaliado com a nota negativa de 7,7 pelo mesmo
barómetro. Não admira que o Observador tenha considerado o atual
presidente da República como a Figura Política do Ano (2016).
Apesar de nós, portugueses, termos a
tendência para sermos muito rezingões e acharmos que tudo está mal… eu acho que
Portugal é um país muito especial. É fácil gostar-se deste país, e não é só
pelo sol, paisagem e gastronomia. É que mesmo em plena vaga de frio, a assolar
toda a Europa, o que mais brilha é o calor humano, com o presidente português
no topo da pirâmide, enquanto durar o estado de graça. Mas esse estado de graça
cultiva-se e, seguramente, não é semeando ventos!
Obs.: se a crónica não ficou assim tão
pequena é porque, afinal, entusiasmei-me!
© Jorge Nuno (2017)