EXCESSOS… MILHÕES E BALDE DE CHOCOS.
“Soldado
Milhões lutou sozinho contra os alemães”… era a frase fixa, na peça informativa
de uma estação de TV portuguesa, no dia em que se comemorava o centenário da
batalha de La Lys, ocorrida na 1.ª Guerra Mundial. Para os mais desprevenidos
ou que desconheciam este caso, parecia algo excessivo, uma das habituais
estratégias para captar a atenção e deixar o espectador agarrado ao televisor.
Na verdade, relatava a história de Augusto Milhais, um transmontando, oriundo da
aldeia de Valongo (mais tarde Valongo de Milhais), no concelho de Murça, e que
viria a ser o soldado raso português mais condecorado de sempre, que teve as
mais altas distinções, incluindo internacionais. A este terá sido dito: “Tu és
Milhais mas vales milhões”. Fez parte da malograda 2.ª Divisão do Corpo
Expedicionário Português e, num momento crítico, terá contrariado as ordens de
um oficial, ficando sozinho nas trincheiras, apenas com uma metralhadora Lewis.
Foi aí que terá enfrentado as tropas alemãs que se movimentavam na proximidade,
facilitando a retirada de tropas portuguesas e britânicas, poupando-se, assim
um número apreciável de vidas. Terá sido um médico escocês, salvo pelo
“Milhões” – retirou-o de um pântano –, que despoletou a divulgação destes atos
de heroicidade. Costuma-se fazer a analogia entre um cobarde vivo e um herói
morto, mas este herói viveu até 1970, tendo falecido na mesma aldeia onde
nasceu, quando estava quase a fazer 75 anos. “O Soldado Milhões” está em banda
desenhada, na literatura através de “Milhões: Tragicomédia em 2 Atos” e agora, através
do cinema, com cenas de guerra nas trincheiras e, mais tarde, a querer fugir do
estrelato, dedicando-se à agricultura e à família. As cenas de guerra, com
muitos efeitos especiais, foram filmadas no campo de tiro de Alcochete. Como
legado do filme, fica para a posteridade a humanização desta figura que se
tornou lendária e continuou humilde.
Ali
bem perto, igualmente em Alcochete e também do outro lado do rio Tejo, outra
“guerra” estourou e ocasionou um anormal e excessivo número de horas de TV,
seja em canais generalistas, de informação ou desportivos, resultante de
exageros de BdC. E como BdC poderia ser a abreviatura de “Balde de Chocos”! É
que a expressão algarvia “Está mai louco que um balde de chocos” pretende
designar alguém que está fortemente alterado, ou passado da cabeça. Também
perturbado, o conhecido ator e cantor Vítor Espadinha – sócio do SCP há 64 anos
e expulso por BdC – deu uma entrevista, em direto no CM TV, começando-a com a
leitura de um breve texto, para concluir que, face ao que estava escrito
naquele livro de medicina psiquiátrica, “Psicopata” é o termo que encaixa no
perfil de BdC, para mais à frente apelidá-lo de “atrasado mental”, que “não
regula bem da cabeça”. Nas bancadas, aquando do jogo de futebol da 1.ª Liga com
o Paços de Ferreira, ouviram-se assobios e viram-se alguns cartazes e, entre
eles, foi dado realce televisivo ao seguinte: “BdC Obrigado e Adeus”. BdC tinha
anunciado, através de redes sociais, a suspensão e castigos para a quase
totalidade do plantel principal, dizendo que iria cumprir as jornadas em falta
com a equipa B e até com os juniores, chamando-lhes “meninos mimados”. A seguir,
viu-se forçado a recuar, por não ter mais jogadores inscritos na Liga Europa; a
resposta, no campo, foi uma exibição de gala da equipa, nesta competição da
UEFA. O conceituado médico Eduardo Barroso, coloca-se ao lado de BdC e
reconhece que “ele não está bem”, que se “devia afastar por uns tempos”. Eu também
não gosto de pontapear ninguém, e muito menos quando está no chão; e nesta
altura, pode-se admitir que BdC estará de rastos e derrotado em algumas dessas
batalhas.
Ser-se
presidente de uma instituição ecléctica, como esta, requer um perfil
apropriado, e esse privilégio foi-lhe conferido através do voto, numa eleição
recente e democrática, com dois candidatos e forte adesão dos sócios ao ato
eleitoral. Tinha fixado a meta de 75% para continuar à frente dos destinos do
clube e obteve 86,13%, legitimando, inequivocamente, a sua continuidade. Cumprindo,
da sua ação e iniciativa sobressai: a construção do pavilhão João Rocha, o
reaparecimento de modalidades extintas (com destaque para o ciclismo), o
incremento do futebol feminino, a reorganização financeira, o reforço da equipa
principal de futebol e das condições de trabalho…
Com
o perfil e estilo de liderança apresentado, ao exercer, simultaneamente, o
cargo de presidente do conselho de administração de uma sociedade cotada em bolsa,
constitui um risco acrescido, com fortes implicações e impacto direto no bolso
dos accionistas e dos obrigacionistas. Num passado recente e por várias vezes,
a SAD deste clube teve necessidade de injeção de capitais. É evidente que os
investidores esperam não só o retorno, pela valorização de ativos, das próprias
acções cotadas, de proveitos em fundos, que chega a incluir uma percentagem
sobre o passe dos jogadores vendidos. Ninguém gosta de ver um seu património
ter uma queda acentuada de 33,33%, em poucas horas, devido à instabilidade
criada por um líder que não sabe acautelar esse património. O investidor não
tem, nem deve ter, a emocionalidade de um associado a vibrar pelo clube, e sabe
da consequência e gravidade das ações congeladas em bolsa. Poucos dias depois
de estalar a crise, com algumas demissões de membros dos órgãos sociais,
sobrepõe-se a parte financeira e já se fala em possível insolvência da SAD,
caso se tarde em encontrar soluções. Se se afastam os patrocinadores habituais,
que não gostam de ver a sua marca associada a outra que está a ficar denegrida,
ainda pior. Quanto a BdC, não fosse a sua tendência permanente para criar
batalhas com várias frentes, para procurar protagonismo e notoriedade, e para agitar
o já agitado balde de chocos, quem sabe… poderia ter ficado para a história sportinguista
(deixem passar o “Excesso”) como “O General Milhões” e receio que não passe de
“O Soldado Tostões”!
© Jorge Nuno (2018)
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