Em
Dia Internacional do Homem
Hoje, dia 19 de novembro,
é celebrado o Dia Internacional do Homem. Acontece em cerca de 40 países do
mundo, incluindo em Portugal – apesar de passar
despercebido à maioria da população. Na verdade, esta comemoração não consta da
lista de eventos apoiados pela Organização das Nações Unidas [ONU], mesmo que o
objetivo mais amplo da comemoração seja promover os valores humanitários
básicos, algo para que a ONU está vocacionada.
Como há tanta preocupação
com a igualdade de género, com o Dia Internacional da Mulher a ser comemorado
desde 1909, poder-se-ia dizer que se estranha como durou 90 anos até se criar
este dia, especialmente dedicado aos homens.
Eis
os cinco pilares do Dia Internacional do Homem[1], que assentam no seguinte:
–
Promover papéis masculinos positivos (…) de homens do dia a dia, cujas vidas
são decentes e honestas;
–
Comemorar as contribuições masculinas positivas para a sociedade, comunidade,
vizinhança, família, casamento, guarda de crianças e meio ambiente;
–
Focar na saúde e bem-estar do homem: social, mental, emocional, físico e
espiritual;
–
Destacar a descriminação contra os homens e meninos, nas áreas de serviços
sociais, nas atitudes e expetativas sociais e no direito;
– Criar um mundo mais
seguro e melhor, onde as pessoas possam sentir-se seguras e crescer para
alcançar seu pleno potencial.
Com a habitual visão irónica e diferente, Osho questiona[2]: «(…) Onde se encontra a verdadeira essência da masculinidade? O que significa, às portas de uma nova era, ser-se homem? Será possível repensar a identidade masculina, de forma a torná-la uma parte fundamental da construção de um mundo melhor?» A dado passo diz-nos que «a libertação do homem ainda está por acontecer. Tal como as mulheres, os homens precisam de um grande movimento de libertação – libertação do passado, libertação de uma escravatura de valores que negam a vida e libertação dos condicionalismos sociais impostos à humanidade por todas as religiões durante milhares de anos». Para ele, «a vida pode ser vivida de duas formas: como um cálculo – na ciência, tecnologia, matemática ou economia – ou como um poema – na arte, música, beleza e amor. (…) O homem acaba por se desviar da sua verdadeira natureza e do seu ser original, perdendo a capacidade de ser feliz sem motivo aparente. (…) O homem acaba por perder o acesso às suas capacidades femininas de sensibilidade, delicadeza, amor e intuição, transformando-o em mero robô: racional, eficiente e sem sentimentos. (…) A minha visão do novo homem é a de um rebelde, de um homem que procura o seu ser original e a sua face original. Um homem disposto a tirar todas as máscaras, pretensões e hipocrisias, mostrando ao mundo o que realmente é».
A tarefa interna,
preconizada por Osho – que conduzirá a um mundo bem melhor –, será muito
facilitada se houver a busca de um sentido por parte do homem e que será a sua
alavanca motivacional.
Mas apesar das boas
intenções na criação deste Dia Internacional, seria bom pensarmos que estará na
hora de cada um deixar de “puxar a brasa à sua sardinha” ou de apenas “cuidar
do seu quintalinho”. Homens, mulheres, jovens e crianças, juntos, podem fazer
com que aconteçam coisas fantásticas. Exemplo disso, foi o surgimento de um
coro com cerca de 3000 pessoas de vários grupos etários, que não se conheciam e
a convite, em Haifa – Israel, juntaram-se embalados pelo som de uma música
vibrante e cantaram, em três línguas, aquilo que se pode considerar a
celebração da coexistência. Eis um “cheirinho” da letra, traduzida para
português: «Um dia… / às vezes eu me deito sob a lua / e agradeço a Deus por
estar respirando / e então oro e peço / para não me levantar cedo / porque
estou aqui por uma razão / às vezes me afogo em lágrimas / mas nunca deixo que
isso me derrube / e quando algo negativo me envolve / eu sei que um dia tudo
vai mudar / pois toda a minha vida tenho esperado / tenho orado / para as
pessoas dizerem: não queremos mais brigar / que não haverá mais guerras / e as
nossas crianças irão brincar / um dia… / um dia tudo isso irá mudar / trate
todos igualmente / vamos parar com a violência / vamos parar com o ódio / pare!».
Este, numa primeira fase,
bem podia ser um hino inspirador do Dia Internacional do Ser Humano, pela
aceitação da diferença e coexistência pacífica dos povos, sem necessidade de
especificar “homem”, “mulher” ou “criança”, já que haveria alicerces para a
criação de um mundo mais seguro e melhor.
William Butler Yeats[3] deixou-nos o belíssimo
poema: «Tivesse eu os tecidos bordados dos céus / lavrados com a prata e o ouro
da luz / os tecidos azuis e foscos e de breu / que têm a noite, a luz e a
meia-luz / estenderia esses tecidos a teus pés; / mas eu, porque sou pobre,
apenas tenho sonhos; / são os meus sonhos que eu estendi a teus pés; / sê suave
no pisar, que pisas os meus sonhos».
Ousemos conhecermo-nos
melhor, manter a máscara facial de segurança por mais uns tempos, e deixar cair
agora a outra máscara. Ousemos reconhecer o valor das emoções positivas na
promoção da saúde e bem-estar e fazer algo nesse sentido. Ousemos interagir, partilhando
esse ânimo e positividade, mesmo que nos imponham distanciamento social. Ousemos
apreciar a vida e vivê-la com “descomplicómetro” e de forma simples. Ousemos sonhar,
não deixando que os nossos sonhos individuais e/ou coletivos sejam maltratados.
Hoje, em vez de “Homem” ou “Ser Humano”, até poderia ser o Dia Internacional de
“Qualquer Coisa”… e bastaria um pequeno esforço nas transformações pessoais para
nos fazer acreditar que uma nova era está aí.
© Jorge Nuno
(2020)
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