CAUTELA E CALDOS DE
GALINHA…
Parte I
Provavelmente menos dispersos, pela redução drástica de saídas para o exterior, agora em casa, algo condicionados, talvez fiquemos mais despertos para as notícias. As manchetes ou breves notas de rodapé, nos diversos meios de comunicação, por vezes surpreendem-nos e conduz-nos a reflexão ou, no mínimo, a um simples questionar. Proliferam frases descontextualizadas, notícias falsas e outras, que procuram cativar a atenção, ou desviar atenções. Os meios de comunicação mais credíveis, são-no porque tendem a investigar, previamente, a fonte e veracidade de cada notícia. Como há acontecimentos que surgem que nem “bombas” e causam tal estardalhaço, que esse apuramento da veracidade é tão diminuto que, sem intencionalidade e sem identificar a fonte, apenas a dizem segura ou nem isso. Outros, sabem o que fazer para fidelizar os mais incautos, que os levam a acreditar em tudo, mesmo em notícias distorcidas e que contém apenas um “cheirinho” de conteúdo verdadeiro. Não será por acaso que surgiu, recentemente, a necessidade de criar o programa televisivo “Polígrafo SIC”, numa parceria com “Polígrafo” – um «projeto jornalístico online que tem como principal objetivo apurar a verdade e não a mentira no espaço público».
Há
algumas notícias que parecerem incoerentes, inverosímeis e absurdas, e acabam
por nos deixar com “a pulga atrás da orelha”. Vejamos esta: «Remédio antipulgas
reduz carga viral do coronavírus…». Escalpelizando o artigo[1], fica-se a saber que
«pesquisadores da Universidade Monash [pública, em Melbourne] na Austrália,
publicaram, em 3 de abril de 2020, um estudo no qual indicam que o uso de um
remédio parasitário (usado contra vermes e parasitas, como piolhos, pulgas,
sarna e filariose em humanos e animais) diminuíam a quase zero o material viral
do novo coronavírus em testes com células cultivadas em laboratório (…). No
entanto, ainda não se sabe se o efeito seria o mesmo em animais vivos», já que
se tratou de um teste inicial em células. Fica-se a saber também que o
«medicamento ainda precisa passar por muitas etapas de testes antes de ser
usado em humanos». Esta, envolve uma Universidade credível e refere testes
laboratoriais.
A
criação de um medicamento pressupõe que, na sua composição, venha a conter
substâncias ativas com propriedades curativas, mas também preventivas. A
criação de uma vacina tem outras caraterísticas, por resultar de preparação
biológica, grande parte das vezes com algumas substâncias tóxicas, para criar
imunidade na população e, assim, erradicar determinadas doenças infeciosas.
«Remédio
maldito – 10 mil crianças em 46 países nasceram com malformações[2]»; «Plano de vacinação
contra covid-19 – conselho de ética nunca foi ouvido pelo Governo[3]»; «Vacina da Sanofi-GSK
ineficaz entre mais velhos[4]»; «Paralisia facial afetou
quatro voluntários da vacina Pfizer[5]»; «Apenas 61% dos
portugueses estão dispostos a receber a vacina contra a covid-19 de imediato[6]»; «Mutação pode
condicionar as vacinas? Não é provável… nem impossível[7]»; «Natal sem restrições
pode causar mais 1500 mortes em Portugal por covid-19[8]»; «Natal – DGS aconselha
ceia sem avós ou celebrada na véspera[9]»; «2020 é o ano com mais
mortes em Portugal[10] – há várias décadas [70
anos] que não se registava uma taxa de mortalidade tão elevada»; «692 mil
portugueses não realizaram consultas médicas que estavam marcadas durante o
tempo de pandemia[11]»; «Aumento da mortalidade
nos primeiros meses da pandemia? As ondas de calor não explicam tudo[12]». Vários canais televisivos
mostraram a ministra da saúde – Marta Temido – a justificar o elevado número de
mortes, com destaque para o envelhecimento da população, onda de calor, efeitos
indiretos da pandemia e covid-19. «Mortalidade entre março e novembro –
covid-19 só justifica 4,6% das mortes em Portugal[13]?».
Na verdade, esta amálgama de manchetes e de notas de
rodapé dá que pensar. Para se chegar a
um medicamento «é preciso um longo, rigoroso e dispendioso processo» e alguns
milhares de pessoas afetadas penosamente, para toda a vida. Para se chegar a
uma vacina, ainda deverá ser um mais longo, rigoroso e dispendioso processo, já
que poderá tornar-se um flagelo, caso os efeitos nefastos secundários comecem a
surgir em elevada escala, em todos os continentes.
Relembrando a informação oficial da DGS algo
desastrada e também a muita contrainformação existente, há que estar atento,
fazer a triagem da informação, aumentar conhecimento e agir em conformidade,
para reduzir a propagação deste novo coronavírus. Entretanto, podemos juntar um
pouco da sabedoria popular: «Depressa e bem não há quem», «Cautela e caldos de
galinha nunca fizeram mal a ninguém».
©
Jorge Nuno (2020)
[1] Artigo de Matheus Moreira, in Folha de São
Paulo.
[2]
Exclusivo CMTV, em que é dito que para se chegar
a um medicamento «é preciso um longo, rigoroso e dispendioso processo».
[3] SIC, 14-12-2020.
[4] TVI24, 12-12-2020.
[5] Artigo de Mariana Branco, in Ciência&Saúde,
11-12-2020, ficando-se a saber que foram quatro casos entre 21.720
voluntários.
[6] Sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião
da Universidade Católica para o Público e RTP, in Público, 16-12-2020.
[7] In Diário de
Notícias, 16-12-2020.
[8] RTPNotícias, 13-12-2020.
[9] In Jornal de Notícias, 16-12-2020.
[10] TVI24, 12-12-2020.
[11] Correio da Manhã, citando Agência Lusa, 29-09-2020.
[12] Artigo de Ana Cristina Pereira, in Público,
02-11-2020, com base no estudo do Grupo de Investigação em Saúde Pública da
Universidade Nova de Lisboa, que cruza «efeitos das ondas de calor e redução
dos cuidados prestados a doentes agudos e crónicos sem Covid-19)».
[13] Polígrafo SIC, 15-12-2020, depois de cruzar dados do
INE e da DGS, refere estar correta a percentagem, mas não o número de óbitos
apresentados numa notícia divulgada nas redes sociais.
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