EM DIA DAS NAÇÕES UNIDAS
Estamos
perante o Dia das Nações Unidas, precisamente no mesmo dia e mês, em que se
comemora os 70 anos da fundação da ONU – Organização das Nações Unidas, a qual
foi criada logo após o fim da 2.ª Guerra Mundial. O seu surgimento, ainda
debaixo de um forte clima emocional, teria (e ainda tem) como objetivo:
“facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança
internacional, desenvolvimento económico, progresso social, direitos humanos e
a realização da paz mundial”, fazendo parte dela praticamente todos os Estados
soberanos existentes.
Como
forma organizativa, possui: um Secretário-Geral, que é o “rosto visível” da
ONU; um Secretariado, responsável pela área administrativa e que promove e
fornece os estudos necessários, assim como outras informações relevantes para o
funcionamento desta complexa organização mundial; uma Assembleia-Geral, que tem
fins deliberativos, onde se tomam, coletivamente, as mais importantes decisões;
um Conselho de Segurança, onde era suposto assegurar-se as resoluções de paz e
de segurança, já que há um caráter obrigatório no acatamento dessas resoluções;
um Conselho Económico e Social, para “fomento da cooperação económica e social
e promoção do desenvolvimento dos Estados”, particularmente dos mais
carenciados de recursos próprios; um Conselho de Direitos Humanos, com o
intuito de “fiscalizar e proteger os direitos humanos”; um Tribunal
Internacional de Justiça, que funciona como órgão judicial. A complementar,
existe: a OMS – Organização Mundial de Saúde, agência especializada em saúde,
que tem por missão “elevar os padrões de saúde de todos os povos; o PMA –
Programa Mundial de Alimentação, a maior agência humanitária do mundo, que
“fornece alimentos, em média, por ano, a cerca de 90 milhões de pessoas em 80
países, as quais 58 milhões crianças”, sendo muito utilizado na ajuda em
situações de catástrofes, que conduzem à existência de refugiados; a ACNUR –
Agência das Nações Unidas para Refugiados; a FAO – Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura, para “aumentar a capacidade da
comunidade internacional para, de forma eficaz e coordenada, promover o suporte
adequado e sustentável para a Segurança Alimentar e Nutrição global”; a UNICEF
– Fundo das Nações Unidas para a Infância, que promove a “defesa dos direitos
das crianças, ajuda a dar resposta às suas necessidades e contribui para o seu
desenvolvimento”.
Como
organização internacional, com sede em Nova Iorque, parece irrepreensível a
intenção com que foi criada. Com esta estrutura, o alcance das suas medidas e
os meios envolvidos, bem podíamos estar descansados quanto a um hipotético
colapso da Terra, e fazer-se dela um lugar bem melhor para se viver em paz, em
segurança, com melhor saúde, educação e pão para todos. Tendo decorrido sete
décadas, podemos questionar: “Então, o que tem vindo a falhar?”, uma vez que
ligamos o televisor, em horário nobre dos noticiários, e ficamos a par de todas
as atrocidades cometidas impunemente pelos “senhores da guerra” e pelos “donos
do mundo”, que respondem com: “mais bombas”, “mais extorsão” e “que se lixe os
direitos humanos”.
Reconheço
o mérito e o trabalho incansável daqueles que, dentro das várias organizações que
compõem e dão visibilidade e utilidade à ONU, prestam um inegável serviço aos
povos mais desfavorecidos e àqueles que fogem das guerras e da fome. No
entanto, não posso deixar de referir o problema a montante e que poderia,
atempadamente, evitar ou, pelo menos, não deixar alastrar a escalada dos
conflitos bélicos, sejam quais forem as causas que os originam. Sempre me
preocupou a constituição e forma de funcionamento do Conselho de Segurança,
senão vejamos: “É composto por 15 membros, sendo 5 membros com poder de veto”
[EUA, China, França, Reino Unido e Rússia]. Assim, dez desses Estados são
eleitos pela Assembleia-Geral, de dois em dois anos. Uma resolução deste órgão,
por mais ou menos importante que seja, só “é aprovada se se registar uma
maioria de nove”, em quinze possíveis. Mas, pelo Art.º 27.º da Carta das Nações
Unidas, basta o voto negativo de um único membro permanente e a resolução será
bloqueada, ou seja, simplesmente não será aprovada, e o problema que lhe deu
origem continua a arrastar-se e a agravar-se. Isto faz com que os países
representados, como membros permanentes, são juízes em causa própria.
Especificando, com um caso concreto, e porque é conhecida a importância
estratégica (e bélica) dos EUA, da Rússia e China, quase sempre com posições
antagónicas em relação aos reais problemas mundiais, aponto a “primavera árabe”
e as consequências atuais na Síria. Houve encorajamento, em muitos países do
norte de África e do Médio Oriente, contra os “eternos ditadores” que dirigiam os
seus países com mão de ferro. Por simpatia e por vontade e rebelião dos povos,
foram sucessivamente depostos. Foram encorajados os opositores ao regime sírio,
do presidente Bashar Al-Assad, e apercebemo-nos que tiveram treino e receberam
armamento dos EUA, além de estes largarem, declaradamente, bombas sobre aquele
território, a pretexto do avanço do autoproclamado Estado Islâmico. Por seu
lado, a Rússia apoia estrategicamente o presidente sírio – que tudo faz para
“silenciar”, à bomba, a oposição –, com a Rússia a intervir com aviões
militares, dizendo que destruiu centenas de alvos do Estado Islâmico e
ocultando que faz o mesmo com os “rebeldes”, sendo o próprio primeiro-ministro
da Rússia, Dmitri Medvédev, a negar publicamente, no canal da estação de
televisão pública, esse apoio ao regime sírio. Como se isso não bastasse, é
incrível o número de países “aliados” em ações militares no espaço aéreo sírio
a despejar bombas, fazendo com que as populações procurem refúgio, e a Europa,
mesmo com todos os perigos mortais até lá chegar, continua a ser o destino
preferido, enquanto outros ficam em “campos de refugiados” na Turquia, que irá
receber da União Europeia 3 mil milhões de euros para “estancar,
temporariamente, o fluxo migratório”. Estrategicamente, interessa à Rússia, EUA
e China que a União Europeia saia enfraquecida e descaraterizada.
No
site do Centro Regional das Nações
Unidas pode ler-se que “o Conselho de Segurança não conseguiu aprovar uma
resolução que teria ameaçado com sanções contra Damasco [regime de Bashar
Al-Assad] devido aos votos negativos dos membros permanentes – Rússia e China”.
Parece estar tudo dito. Mas acrescento que se tivesse havido uma ação séria,
responsável e coletiva, este conflito estaria mais próximo do fim e evitaria todo
este drama e a morte de muita gente inocente, levando ao começo de uma
transição política.
Assim,
não há OMS, PMA, FAO, ACNUR ou UNICEF que aguente e a ONU acaba numa gigantesca
instituição, sem força nem credibilidade. Gostaria de dizer, convictamente:
“Parabéns ONU”.
© Jorge Nuno (2015)
Obs.: Crónica escrita para a BIRD Magazine
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