PUBLICAR
NOS TEMPOS ATUAIS?
Como
estreante com um romance – cuja sessão de lançamento ocorreu já 2013 –, pelas
experiências anteriores relativas à minha participação em duas dezenas de
coletâneas de contos e poesia, como produtor de conteúdos e também pelo meu
olhar, como consumidor e como observador atento da realidade do meio literário,
onde me vejo envolvido, senti um impulso enorme para escrever algo relacionado
com o tema em título. E cá estou… convicto do interesse desta minha reflexão.
Posso
congratular-me pelo facto de três editoras terem aceitado publicar o meu
primeiro livro a solo, caso que não é muito frequente no panorama atual – em
boa verdade, tratava-se de pequenas editoras e uma delas até referiu a dado passo
das negociações : “Que garantias me dá? Há que ter algum cuidado nos tempos que
correm” –.
Tentando
estabelecer paralelos entre editoras, ao nível das condições fixadas para
publicação, ouso divulgar o seguinte: numa, mesmo na qualidade de autor, tinha
que adquirir 250 livros, noutra 180 livros e noutra um mínimo de 100 livros,
com direitos de autor que iriam entre os 3% e 30%, consoante o “risco
calculado” (?) ou política da editora, para autores desconhecidos e consoante o
número de exemplares adquiridos pelo autor. O meu investimento, como autor,
situava-se então entre os 1080 euros e os 2428 euros. É preciso ser-se ousado,
ter coragem, acreditar no seu “produto” concebido e ter algum suporte
financeiro para despesas deste tipo, em tempos com resquícios de crise, que aos
poucos se tem vindo a desvanecer.
Uns
meses depois, uma jovem amiga, amante da escrita e particularmente da poesia,
que tem um conhecido blogue e que teve tempo de antena (entrevista e
reportagem) num programa da manhã, na TV, perguntava qualquer coisa como isto,
numa rede social: “Pode-se viver só da escrita?”. Eu, como amigo e como pessoa
experiente, que teve que lutar muito na vida para atingir vários patamares de objetivos,
aceitei o repto e respondi. Não me lembro bem das palavras que lhe dirigi, mas
de uma maneira soft, com poucas
palavras, tentei fazê-la descer à terra, sem querer de modo algum destruir os
seus sonhos e concluí, incentivando-a a escrever, mas procurando outro suporte
para poder viver condignamente.
Decorrido
mais uma semana, uma outra minha amiga, poetisa, aposentada, na casa dos 70
anos, que tinha sido incentivada por mim a participar numa coletânea de poesia,
quando recebeu a conta antecipada de 60 euros, um mês antes da publicação,
disse-me que ia escrever à editora a renunciar, pois não tinha esse dinheiro
para pagar pelos três livros, como mínimo exigido.
Cerca
de um ano depois do lançamento do meu livro a solo, um meu amigo, poeta,
aposentado como professor de Língua Portuguesa, que também tinha sido
incentivado por mim a participar numa outra coletânea de poesia, telefonou-me a
dizer que tinha acabado de receber uma carta da editora para pagar
antecipadamente 100 euro pela aquisição de 10 livros, a que obrigatoriamente se
via comprometido. Perguntou-me: “Isto é normal?”, depreendendo, pelo continuar
da conversa, a sua pouca convicção da justeza do pagamento a mais de um mês da
saída do livro. Como tinha algum poder económico, seguiu em frente. Reconheço-lhe
muito talento mas, curiosamente, nunca mais o vi participar em coletâneas.
Por
essa ocasião, vi uma notícia na TV que apontava para uma diminuição de vendas
no mercado livreiro, relativo ao ano de 2012. Segundo dados da GFK, citada pela
estação de televisão, a redução foi da ordem dos 9% e corresponde a cerca de um
milhão de livros.
Interessei-me
pelo assunto e pesquisei, tendo encontrado na blogosfera uma notícia, publicada
em 29 de abril de 2013, em blogtailors.com/tag/ estatísticas+e+números,
blogue de Booktailors Consultores Editoriais. Referia que as “vendas da Amazon
cresceram 22 % no primeiro trimestre daquele ano [2013]. Outra notícia no mesmo
espaço, publicada em 16 de abril de 2013, refere que “as vendas digitais
ascendem a quase um quarto do mercado editorial norte-americano [via “eBook
Portugal”].
Começam
a aparecer algumas editoras, com subsidiárias / livrarias virtuais, para
comercialização de eBooks. Por exemplo, e sem querer publicitar ou dar
visibilidade gratuita, a Wook (do Grupo Porto Editora) que, em 9 de maio de
2016, refere no seu site que é “a
maior livraria em Portugal”, tendo “700 mil clientes registados e um catálogo
com mais de 8 milhões de livros e eBooks”.
Aponta a sua estratégia para a comercialização de eBooks, nomeadamente “uma
solução inovadora que vai definir e impulsionar o mercado de eBook em Portugal”.
Disponibilizou informação que diz facilitar “a entrada de todas as editoras
portuguesas, pequenas, médias ou grandes, na realidade do eBook”, fazendo-o
chegar aos leitores o produto pela via digital, “independentemente dos
aparelhos e respetivos sistemas operativos”.
Ainda
no blogue de Booktailors, numa notícia de 25 de junho de 2015 e com base num
estudo feito pela Deloitte, é possível ler: “os jovens entre os 16 e os 24 anos
não aderem aos livros electrónicos”, mas também não compram livros em suporte
de papel; dos inquiridos “apenas 14% disse ler mais de uma hora por dia”,
acrescentando que isto poderá acontecer devido à “ausência de hábitos de
leitura dos mais novos”; neste grupo etário, “58% destes jovens passa mais de
uma hora a ver televisão”, apesar de 34% ter respondido que “leem mais agora [2015]
do que em 2010”.
A
solução dos problemas neste setor [na ótica do autor] passará pela edição de
autor, devendo o mesmo, posteriormente, arrojar-se na difusão da obra através da
Amazon (ou outra similar), como o caso recente de uma jornalista transmontana,
a trabalhar numa estação de TV europeia, que tem as suas obras disponíveis
neste imenso mercado e que diz que as vendas vão acontecendo regularmente?
Ou
passará pelo eBook, em que nós, produtores de conteúdos (com os nossos contos,
romances, poesia, ensaios…) nos sentimos tantas vezes impotentes para “ter mais
voz ativa”? Será que agora, com a diminuição das vendas dos livros nas
livrarias, pessoas como tantas que conheço (de que dei aqui apenas um
“cheirinho”) podem finalmente publicar os seus trabalhos e fazer com que um
número apreciável de leitores os leiam, a custos relativamente baixos para os
leitores e gratificantes e justos para os autores?
Será
que vai acontecer às pequenas e médias editoras de livros o mesmo que aconteceu
às várias editoras de música, com quase desaparecimento destas e venda da
música pela via online? Será a mesma
coisa ter livros digitais e não os nossos queridos livros de papel na estante e
poder manuseá-los, sempre que nos apetecer? Pelo que se passa com os álbuns das
fotografias digitais, abandonando-se os “velhos álbuns” com as fotos em papel…
tenho muitas dúvidas! Mas por causa dessas dúvidas… o melhor será ter a ousadia
de experimentar, confiante, para acompanhar a evolução dos tempos.
© Jorge Nuno
(2106)
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