ESTRANHO MUNDO
Parte III
O presidente da maior potência mundial e
económica vê-se debaixo de fogo, no seu país, por não conseguir dar resposta
efetiva ao controlo da pandemia. Desde o início desta, cerca de 38 milhões de
cidadãos desse país ou a trabalhar nele, submeteram o pedido de subsídio de
desemprego e, só em cinco semanas, registou-se cerca de 26 milhões de
desempregados, a uma média superior a 5 milhões em cada semana. Até ao momento,
é o país com mais mortes e casos de infeção confirmados por Covid-19 – e
falamos de microrganismos, digamos “invisíveis” –. Pois à falta de resposta
eficaz, o presidente afirmou que o número de casos de infeção é motivo de
orgulho e avança com a oficialização da criação de um novo ramo das Forças
Armadas – a Força Espacial –, como uma necessidade imperiosa de militarizar o
espaço, que é com quem diz, preparar o país para deter o domínio da guerra
espacial.
Incongruências acontecem um pouco por todo
o mundo, fazendo com que aconteça mais do mesmo! Há logo quem se aproveite da
pandemia para entrar no campo dos ilícitos criminais, com fraudes a pretexto de
donativos, equipamentos ou soluções para esta pandemia, etc., etc…
Vejamos alguns casos:
O Gmail[1] divulgou que, só numa
semana de abril de 2020, registou uma média diária de 18 milhões de e-mails
falsos, relativos à Covid-19. Com domínios falsos ou software malicioso,
havia o propósito de extorquir dinheiro, sob a forma de donativos ou outros, ou
ter acesso aos dados pessoais dos utilizadores.
A Europol e Interpol, com apoio das
autoridades financeiras da Alemanha, Irlanda, Holanda e Reino Unido,
desmontaram um esquema fraudulento de fornecimento de máscaras faciais
“inexistentes”, após clonagem de uma página de Internet de uma conhecida
empresa – negócio a envolver muitos milhões de euros, um previsto transporte em
52 camiões, com direito a escolta policial, e que terá lesado as autoridades de
saúde alemãs, com parte do dinheiro a ir parar ao Reino Unido e Nigéria.
A envolver o Reino Unido e Bélgica, uma
suposta empresa farmacêutica, não legalizada, criou um nome muito semelhante à
que está autorizada a produzir e comercializar um determinado fármaco. Deste
modo, circula um medicamento falso, à venda através da Internet, para tratamento
da Covid-19. Com embalagem idêntica, quem o adquire, pensa estar a comprar
hidroxicloroquina ou cloroquina. O original poderá estar a apresentar, pontualmente,
resultados favoráveis no combate a esta nova doença, mas as autoridades
sanitárias insistem em alertar para várias contraindicações deste medicamento, que
foi concebido para tratamento de outra doença – a malária.
No sul de Itália – a região mais pobre e
com mais desemprego no país –, continua o receio, com fundamento, que possa
voltar a ficar sob forte influência da máfia, após e ainda durante o novo
coronavírus, caso o Estado não consiga apoiar a população e empresas
necessitadas. As notícias mais sensacionalistas apontam: “Máfia mata a fome aos
pobres”. A questão é que, com pouca empregabilidade e com a obrigatoriedade de
encerramento de comércio, indústria e serviços, a máfia estará num ascendente
junto desses setores, financiado agora para deixar os empregadores reféns.
Por
cá…
A
ASAE[2] recebeu, no primeiro mês em que foi
declarada a pandemia, cerca de 4500 queixas por especulação de preços, o que
levou a vários processos-crime e processos de contraordenação, por ser evidente
estar-se perante a prática de obtenção de lucro ilegítimo em produtos como o
álcool, gel desinfetante e máscaras de proteção individual.
O
Centro Nacional de Cibersegurança e as autoridades de saúde, têm vindo a
alertar para campanhas de smishing (phishing por SMS) – uso de
App fraudulentas, roubo de informação confidencial, ou bloqueio de telemóveis,
beneficiando financeiramente os infratores. Alguém que se faz passar pelo SNS -
Serviço Nacional de Saúde, por uma entidade bancária ou, simplesmente, uma App
que pretende dar informação sobre a pandemia em tempo real, e direciona o
“lesado” para um site falso ou suposto homebanking. Constata-se a
extorsão de 100 dólares em bit coin[3] para desbloquear cada telemóvel;
acesso a dados do cartão de crédito, para uso indevido; direcionadas quantias
generosas de donativos para contas que nada têm a ver com solidariedade…
Há
quem se faça passar por médico e procure o contacto pessoal, selecionando,
preferencialmente, pessoas idosas, como se fossem fazer testes, e acabam por
burlar essas pessoas mais vulneráveis.
Com mais de 4,9 milhões de pessoas infetadas
em 196 países e territórios, e registo de 323.370 mortes[4], há pessoas, sem
escrúpulos, que se aproveitam da desgraça alheia e tudo fazem para ter elevados
proveitos, com alguns a querer tornarem-se milionários facilmente, numa altura
em que o mundo está numa fase de empobrecimento abrupto.
O seguinte provérbio oriental é muita
realista: “tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos
fáceis e tempos fáceis criam homens frágeis que criam tempos difíceis”.
Saibamos construir um futuro novo, para não se repetirem ciclos que não
desejamos.
Obs.:
Quanto à foto que acompanha a crónica… se fosse na região de Bragança, alguém
diria logo: “Bô, e este agora!?... Emalucou!”. Acontece que um apreciável grupo
de amigos (mais de cem), em poucas horas, reagiu favoravelmente a um meu post,
em que lhes solicitava sugestões de penteado para um enorme cabelo, como forma
de atenuar a falta de ida ao cabeleireiro, durante este período de
confinamento. A verdade é que, na votação, o rabo de cavalo ganhou. E,
afinal… optei pelo cabelo com tranças como a Pipi das Meias Altas! Expliquei-lhes
que exerci o meu direito a ter opinião própria e pedi-lhes para não ficarem
indignados, ao saberem que não respeitei o seu sentido de voto. Se formos a ver
bem, ninguém mostrou indignação quando, num passado recente, uns ganharam as
eleições legislativas e outros formaram o Governo de Portugal. Bem, houve
alguns… lembro-me da Múmia e do Calimero, sendo que este, quando viu amputado o
futuro, não parou de chorar durante meses, a dizer que o lugar era dele e não
lhe deram as oportunidades que merecia. Quanto ao Submarino, esse, mais sabido
e racional, simplesmente apressou-se a usar a fotocopiadora, até acabarem as
resmas de papel ou o toner. E a conversa continuou referindo, a dado passo, o
que disse o marido da minha mulher a dias, que tem uma prima que mora mesmo em
frente a uma cabeleireira e que pintava o cabelo todos os dias, até estalar
esta crise: “Pintar o cabelo faz mal à moleirinha, mas as clientes querem e eu
faço a vontade!”. Eu não acho que me tenha feito mal à moleirinha!
No fundo, esta foto nada tem de estranho;
pois estranho, estranho… parece estar o mundo! No entanto, no meio desta
estranheza, alguns conseguem discernir com lucidez e extrair algumas
revelações, um pulsar… Não fosse este último aspeto, poder-se-ia dizer: mas que
estranho mundo!
© Jorge Nuno (2020)
[1] Serviço
gratuito de correio eletrónico da Google.
[2]
Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica.
[3] Moeda
virtual, para transações eletrónicas (sem rasto…)
[4] divulgados
pela Agência France Press em 20-05-2020, baseado em dados oficiais, mas que
poderão ser muito mais graves, devido à incerteza relativamente aos números
reais em África e América do Sul.
De leitura obrigatória. Esta Pipi das meias altas andou muito atenta durante a quarentena.
ResponderEliminarAbraço amigo, Jorge Nuno.