29/05/2012

Bô!


BÔ!

Bô! As castanhas são folecras e estão bichotas! Não dão para fazer bilhós!...
Bô! Onde andavas tu, que deixaste as cabras ceibarem-se no pão?
Bô! Estás a deixar esfurgalhar o folar pró chão!
Bô! Olha… Esbaragou na fraga, espanzou-se e vem agora em coximpé!
Bô! Este reco esfuinchou-se aqui mesmo ao pé da gente!
Bô! Ele quando for estudar para Bragança bem espabila! Fica guicho!
Bô! Dei-lhe cá umas galdrochadas que o deixei a cuincar!
Bô! O que tu queres é andar de landó!
Bô! Deste com um lafrau, aldrúbias e já foste langrado!
Bô! Ele não passa fome, está bem cebado!
Bô! Ele quando começa a licantina… o pessoal desanda!
Bô! Não foste tu que o estiveste a aperriar, or não?
Bô! Non dá a mocha para a cornuda!
Bô! Não me quis dar nem um cibinho de chicha, mas atirei-me aos chorelos fritos!
Bô! Estava porrancho no rio e uma abéspera picou-o?
Bô! E ele aciroulou com ela atrás da fraga?
Bô! Os caretos estavam a ahuhiar?… ai que assim se m’assustava!
Bô! O povo é muito abechoto, nem se mexe quando pisa um belouro!
Bô! Este poeta pode estar com mesunhices, a contrapiar ou a atesoar ou então é um estoubado de um parachismeiro, que anda sempre na jarolda, porque isto não é um poema!...

Bragança, 29 de maio de 2012

Jorge Nuno

24/05/2012

Ensaio sobre a Aplicação do Novo A.O.



ENSAIO SOBRE A APLICAÇÃO DO NOVO A.O.

Ortografia… quem diria, polémico tema!
Metade protesta, contesta, em defesa da conservação,
Em desacordo com o novo acordo.
Para outra metade, bater-se é o lema,
Pugnando pela sua alteração.
Quer-se um código ortográfico único
Válido para todo o espaço lusófono.
Entende-se a pertinência da questão,
Não só pelo interesse dos editores brasileiros.
Dizem que há o prestígio da língua e a até a sua expansão!...
Como se se tratasse de um produto exportável (?)
Para compensar a redução da exportação de cortiça e conservas!
São tantas as patranhas… esta é mais em uma que caio.
Contextualizado, vamos então ao pequeno ensaio!

O primeiro-ministro está rijo que nem um pero!
Otimista, parece estar num mundo mais-que-perfeito,
Que afinal também é cor-de-rosa.
Alguns pensam que ele é ultrassensível,
E até, pasme-se, ultrarromântico!
Está em autoaprendizagem e tem superproteção.
Mas o país está ao deus-dará e ele a ficar malvisto…
Há quem diga que foi bem-criado e que agora é malcriado,
Toma medidas a conta-gotas e o país na bancarrota.
Tomou medidas antissociais e acabou-se o pé-de-meia,
Vai ao bolso do contribuinte, com retroatividade.
São medidas antieconómicas, mas não anti-inflacionárias,
Com ministros que dão contraordens, coautores de asneira.
Com ajuda desta escrita excecional, já nem se sabe o que preveem.
Podem fazer um autorretrato, mas ficam mal no porta-retratos!

Quanto aos portugueses… já não creem nem descreem,
Mesmo naquilo que veem ou no que leem,
Pouco lhes importa se são bem-mandados ou malmandados.
Mostram pouco afeto, ainda que alguns tenham um teto.
É alarmante a fome e o número dos sem-abrigo.
É um problema do arco-da-velha, com ou sem subjetividade.
E o povo continua a ir na lenga-lenga…
Toca reco-reco e papa-hóstias (não que seja antirreligioso!).
É incapaz de autoafirmar-se e perdeu a autoestima.
Não há mesmo contraofensiva neste microssistema!

Posso ser um neoexpressionista, com minicurrículo,
Não sou antipatriota e nem estou mal-humorado,
Sou capaz de bem-dizer… o que para outros é maldizer.
Posso ter muitas dúvidas, mas sei neste exato momento:
- Que estamos a perder o comboio, como o comboio perdeu o acento,
- Sei que o meu gato Jacob, também se pode chamar Jacó,
- E sei também, perentoriamente, que na corrupção não se mexe,
Porque os corruptos continuam, debaixo da bandeira desfraldada ao vento!

Bragança, 24 de maio de 2012
Jorge Nuno

20/05/2012

Agora Sim!


Foto: Extraída de http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/rel%C3%B3gio.html


Quando o coração está bem orientado a vida pessoal é cultivada. Quando a vida pessoal é cultivada, a vida a casa está regrada. Quando a vida da casa está regrada a vida nacional está em ordem. Quando a vida nacional está em ordem, o mundo está em paz.



Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.)

Filósofo chinês, sublinhou o papel da moralidade pessoal e governamental, também os procedimentos corretos nas relações sociais, a justiça e a sinceridade.


Agora Sim!



O céu apresenta sucessivas nuances.

De rosa passa a cinza,

Passando pelo escuro carregado.

Eis que surgem os tons laranja-âmbar,

Próprios da refração da luz, em fim de tarde.

Agora sim! Paira no ar natural expetativa.

Já se sente uma imensa alegria de viver.

Com toda a máquina bem oleada… agora sim!

- Os senhores do Tribunal Constitucional

Não deixam passar inconstitucionalidades,

Acabando com a ideia da letra morta;

- Os senhores da bandeirinha na lapela

Sabem o rumo, e de forma exímia,

Navegam a toda a força, para salvar o país;

- Os senhores deputados da Nação

São o motor do progresso;

- Os senhores das entidades reguladoras,

Finalmente regulam os seus setores;

- Os senhores dos “polvos”

Respondem pelos crimes e

Já não há Tomazes na Presidência…



Agora Sim! Há motivos para grandes festejos!

- Os problemas socias estão resolvidos;

- Foi reposto o produto do roubo

Nos subsídios e salário;

- Os impostos agora são justos

E não há exceções quanto àquele

Que se diz ser solidário;

- Os trabalhadores já não caem

No conto do vigário;

- O serviço prestado aos doentes

Foi melhorado;

- O valor do trabalho

Cada vez mais respeitado;

- Há pão sobre as mesas

E muitos rostos risonhos…



Trrrrriiiiiimmmmmm……



Acordo estonteado!...

Desfiro um tremendo murro no relógio

E escavaco-o todo!

Não, não sou pessoa com mau feitio, a sério!

Não aceito é que me estraguem os sonhos!



© Jorge Nuno (2013)

16/05/2012

A Passagem (Parte I - As eternas dúvidas)


A PASSAGEM (Parte I -  As eternas dúvidas)

  Haverá liberdade ilimitada da mente,
De modo que esta funcione livremente por si?
A mente e a consciência
Existirão independentes do cérebro e do corpo físico?
Podemos mesmo existir como entidade separada do corpo?
E, fora dele, haverá uma energia realmente?
Por que Platão e Sócrates, sabiamente,
Recorreram à dialética para convencer que a alma é imortal
E passado tanto tempo a questão se eterniza?
Se se acha que tudo acaba aqui, de modo banal…
Por que muitos se sentem abandonados à sorte
E o medo da morte atormenta e se agudiza?
Será uma mera atividade imaginativa presente
O conhecimento da realidade por quem está em coma,
Com perceção visual, inteligente ou auditiva,
Incluindo (ou não) uma caminhada a outra dimensão?
É um mero assunto para a antropologia do imaginário?
Por que tem a morte, e os enigmas associados, tal véu?
Por que tantos se recusam a admitir o “outro lado da vida”
E por que tanto artista plástico recriou A Ascensão ao Céu?

                                                                                          (Continua)

Bragança, 16 de maio de 2012
Jorge Nuno

Recomenda-se a leitura da História dos Habitantes da Caverna de Platão,
em O Mundo de Sofia, por Jostein Gaarder