A PASSAGEM
(Parte II - A vivência do poeta)
Têm sido muitos os médicos,
filósofos, cientistas,
Poetas, criminologistas e
outros atores,
Com maior ou menor
sensibilidade,
A abordar a questão da morte e
seus temores.
Havia uma verdade oculta, que
com acuidade,
Aos olhos do poeta se tornou
clara.
Bastou a experiência
gratificante de um mergulho...
A submersão forçada,
tornando-o impotente,
Um náufrago aprisionado!
Quando era suposto haver, de
forma estridente,
Um esbracejar, a luta pela
sobrevivência,
Um turbilhão de emoções destrutivas,
paralisantes,
Face à ameaça da morte, surgiu
o inesperado:
Em ambiente de grande paz, saído
do corpo,
Surgiram memórias visionadas e
percetíveis,
O filme condensado de uma vida,
revisitando o passado.
Sem sentimentos de culpa,
acusações ou juízos de valor,
Sem pranto, angústia, medo ou
dor
Sem sufoco e, espante-se, sem
espanto…
Rendeu-se finalmente ao
encanto,
A lembrar marinheiros
naufragados
A seguir o canto da sereia,
que os chama perdidamente.
Houve uma postura de
contemplação e aceitação,
De seguir o instinto natural,
sem hesitação.
Sem preocupações em reagir ou compreender
a mente,
Este acontecimento encarnou a iluminação.
A uma velocidade alucinante,
Em túnel inimaginável, sem
saber onde conduz,
Deu-se a aproximação a uma
intensa e acolhedora luz.
Eis que parece ter sido
disparado poder de cima!...
Foi como se Jesus dissesse ao
paralítico:
Levanta-te, toma o teu catre e vai para casa.
Só que a casa, tanto podia ser
na Terra ou noutro lado.
E este poeta, com honestidade
intelectual,
Talvez contrariado, mas
sabendo que foi ajudado,
Regressou à sua vida normal,
ao seu estado atual.
Testemunha ocular nesta
inesperada viagem,
E de retorno neste percurso
elítico,
O poeta descobriu que há uma
passagem!
(Continua)
Bragança, 16
de maio de 2012
Jorge Nuno
“Uma vez que não consegui ir
ter com a Morte,
Ela gentilmente parou para me
apanhar.
Na carruagem só íamos nós
E a imortalidade.”
Emily Dickinson
Sem comentários:
Enviar um comentário