COM TANTO SURREALISMO, ONDE
ANDAM OS POETAS SURREALISTAS?
Tenho
tido todo o tempo do mundo e julgava não ter tempo para nada!
Hoje
arranjei tempo, como quem vai buscá-lo à mercearia, gasta e guarda um
bocadinho!
Hoje
arranjei tempo, finalmente, para ler poesia surrealista.
Alberto
Pimenta brinca com a fome da sobremesa alheia e com os filhos da puta (pequenos e
grandes) e destes, pequenos e grandes, está hoje Portugal a abarrotar!
Mário
Cesariny de Vasconcelos sai-se bem em “De Profundis Amamus” e exorta em “Louvor
e Simplificação de Álvaro de Campos (Fragmentos) ”, sobressai nos seus poemas “Tantos
Pintores…” , “Homenagem a Cesário Verde” e “Vota por Salazar”, para na “Autobiografia”
escrever “(…) o meu nome
está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado à morte!”
(só por si, um ato surrealista, em tempo de ditadura).
Alexandre
O’Neil diverte-se e diverte em “Poema Pouco Original do Medo” e “Pretexto para
Fugir do Real” , Cruzeiro Seixas em “Andam Descalços os Peixes” e Herberto Hélder
e as suas múltiplas “Musas Cegas”.
Jorge
de Sena, em “Uma Sepultura em Londres” aborda, com mestria, os “escravos”.
António
Ramos Rosa e o seu “Poema de um Funcionário Cansado”, que hoje alargaria,
decerto, ao “Povo… Velho e Cansado” e aos poucos que têm a sorte de ter
trabalho e andam esgotados, psicologicamente!
“Cântico
Negro”, de José Régio, tantas vezes declamado, particularmente por outro Jorge
Nuno – o Pinto da Costa, durante as tertúlias portistas!
E
até o Miguel Torga se atreveu…em “Orfeu rebelde”.
Não
é preciso ser génio para chocar, mas, mais do que nunca, é preciso chocar com o
génio da liberdade do ato poético!
Numa
altura em que nunca se viu tanto surrealismo, como: nas decisões dos tribunais (ou
na falta delas); nas supostas decisões dos pseudopolíticos, numa subserviência
a outros interesses; nas decisões dos meros gestores-coveiros; no desemprego
como uma oportunidade para as pessoas melhorem o seu nível de vida; nas autoestradas
desertas e no aumento da sinistralidade nas estradas secundárias; nos gastos da
Seleção Nacional de Futebol em tempos de crise e até do meu gato Jacob (é assim
que está registado e não lhe vou mudar o nome para Jacó!)
que decide não comer das caríssimas latas Gourmet A La Carte!... Pois!... Com tanto surrealismo… não me espanta
que tenham sido completamente “abafados” os poetas surrealistas!
Bragança, 14 de junho de 2012
Jorge Nuno
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