20/06/2012

Dor que Dói


DOR QUE DÓI

Se a dor é dor que dói,
Bem no íntimo, profundo…
Se a dor é dor que dói,
Dói e faz desabar o mundo…
Se isso alivia,
Há que subir à montanha
E gritar a dor.
Gritar, gritar bem alto!
Enquanto não nos reencontrarmos,
O grito será apenas um escape!
Conseguido o reencontro,
Podemos voltar à montanha,
Para agradecer,
Para contemplar,
Mas já não será preciso gritar!

Bragança, 20 de junho de 2012
Jorge Nuno

A Aranha


A ARANHA

Estes aracnídeos são feios,
Assustam, matam.
Estes aracnídeos repugnam.
Sabem produzir seda
Para a construção das teias.
Sabem como construir teias.
Sabem como construir teias resistentes.
Sabem como construir teias resistentes
A climas adversos.
Sabem esperar pelas vítimas.
Os membros do Clube de Bilderberg também.

Bragança, 20 de junho de 2012
Jorge Nuno

Os Serviços Secretos


OS SERVIÇOS SECRETOS

Que os há, há!...
Toda a gente viu o nome deles na Internet.
Eles andam aí!
Na A. R. acham mesmo que não há regulação.
Outros querem reformar esses serviços.
Entretanto, eles andam aí!
Bisbilhoteiam, à descarada, a vida de cada um.
A minha também!
A fazer lembrar os tempos da PIDE!
Vão à minha caixa de correio eletrónico…
Apagam temporariamente o meu blogue….
Pressionam o ambiente à minha volta,
Apontando-me como perigoso para a sociedade.
Desta vez foram longe demais!…
Até se deram ao luxo de vir de bata branca!
Levaram-me e questionaram, questionaram…
Querem saber quem sou.
Querem saber o que penso.
Querem saber porque penso.
Querem saber porque não penso como os outros…
Deram-me sedativos.
Quando estava mais calmo…
Afinal, verifiquei que os homens da bata branca...
Eram do Hospital Júlio de Matos!

       Bragança, 20 de junho de 2012
                     Jorge Nuno

Poema sem Tema

 
Foto: Extraída de http://proledepalavras.blogspot.pt/ 

                                        POEMA SEM TEMA

Hoje não tenho tema.
Parto para a escrita sem tema.
Simplesmente, não quero saber!
Infelizmente, à minha volta,
Os temas repetem-se.
Tristes temas!
E eu não os quero aqui repetir.
Sei que as palavras escritas saem,
Pela necessidade de saírem.
Gostava que elas não fossem ocas,
Que vindas do íntimo
Chegassem longe.
Palavras sentidas, que tocassem,
Regadas pela serenidade e grandeza da alma
E iluminadas pelas entidades superiores que me amparam.
Certamente não o terei conseguido
E, quem sabe, apenas terei sido egoísta.
É que tendo desligado cedo a televisão
E pegada a caneta com prontidão,
Fiquei mais aliviado
Dos tristes temas à minha volta.

Bragança, 19 de junho de 2012
               Jorge Nuno

19/06/2012

Poem for the English to see (Poema para Inglês ver)




POEM FOR THE ENGLISH TO SEE
(Poema para Inglês ver)

You know, my friend, you certainly do!...
Our countries have something in common in the Guinness.
I mean the world’s oldest diplomatic allegiance.
Which dates back to the war of Aljubarrota, fought against Castela!
You also know that since then not everything has been a bed of roses.
There have been clever opportunistic men in this country,
Wanting to connect Angola and Mozambique
And they called it the pink map.
Your ultimatum called them to reason and put an end to their plan
(no wonder, you owned the world’s biggest Empire!)
That Allegiance and the African colonies forced us into a World War
Against the German expansion,
Taking the lives of 10.000 Portuguese citizens.
Putting that aside and forgetting the competition for global economic interests.
Today, there’s the sun and the beaches in the Algarve,
The tourism and hotel business,
In the most representative Portuguese places,
Nightlife, beer, plenty of beer and football!
Perhaps I didn’t like you that much…
And I criticized you, I called you conservative for keeping the pound.
 Damn… you surely were right!

Bragança, 17 de junho de 2012
Jorge Nuno

Quadra, sem título


Loucura, antecâmara da genialidade?
Não me importaria de assumir a loucura.
Porque, louco, entrava na imortalidade,
Ultrapassando, assim, a vulgaridade pura!

In As Animadas Tertúlias de um Homem Inquieto, de Jorge Nuno, 
p.28, ISBN 978-989-8629-25-8 , 1.ª ed. 2013

Ai...



                                                      AI…

Ai… se El-Rei D. Dinis tivesse gira-discos!…
Passava a todo instante a sua poesia trovadoresca.
- Seu grande sucesso na altura -
No único vinil riscado…
 “Ai, Deus, e u é?”... “Ai, Deus, e u é?”... “Ai, Deus, e u é?”...

Ai… se o Camões tivesse telemóvel…
Passava o dia a falar, em tarifário TAG,
Com a casada e adorada Violante,
Com a idílica Dinamene,
Com um vasto rol de damas da corte e plebeias
E até com as suas Tágides e Nereidas,
Não tendo tempo para escrever “Os Lusíadas”…
Para regalo dos estudantes!

Ai… se o Bocage tivesse webcam!…
Passava o dia a observar as damas da corte,
Em poses íntimas, em jardins palacianos.
Não lhe faltariam argumentos…
Mas ficaria sem tempo para versejar,
Coisas sérias ou brejeiras!

Ai… se o Drummond tivesse iPad!…
Seria um relâmpago a divulgar “A Revista”,
O “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”
E o “Movimento Modernista”!
Virava as costas aos jesuítas,
Era mais cedo cidadão do mundo,
E ficava logo com as obras pirateadas!

Ai… se o Pessoa tivesse Facebook!...
Fazia logo convite aos heterónimos,
Punha em rede, a comunicar em chat,
O Alberto Caeiro, o Ricardo Reis e o Álvaro de Campos,
E o ortónimo Pessoa ia para os copos, na Brasileira!

Ai… se o Mário Viegas tivesse videojogos!...
Não jogava tão bem com as palavras,
Já não se lhe ouvia a “Cantiga dos Ais”…
Tão bem escrita por Armindo Mendes de Carvalho:
“(…) Ai os ais de tanta gente…
Ai que já é dia oito
Ai o que vai ser de nós”!

Ai… se o Saramago tivesse megafone!...
Nem esperava, viria mesmo agora do além!
Invadiria as Rádios, TV´s, Tablets e PC’s…
E das grandes avenidas ao interior do país,
Berraria bem alto, para finalmente acordar…
E desassossegar o povo!

Ai… se eu tivesse Karaoke!...
Depois de cantar mais de uma dúzia de vezes,
Mesmo com voz desafinada…
“Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai se eu te pego”
Mas com animação tremenda,
Passaria o resto da vida
A escrever exclusivamente poesia alegre!
Por isso é que eu não tenho sistema de karaoke!

            Bragança, 19 de junho de 2012
                        Jorge Nuno