16/01/2014

Sons do Meu Pouso



O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez.



Guerra Junqueiro (1850 – 1923)

Político/deputado, diplomata, jornalista e escritor português, mas acima de tudo um poeta de enorme talento, cuja poesia terá contribuído para o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. O seu corpo repousa no Panteão Nacional.



(Com um toque de humor e o meu sorriso :-)



SONS DO MEU POUSO



No quintal do outro lado,

Com mais um dia a raiar…

Começa o galo Marcelo

Esganiçado a cantar.

Dias de limpeza a fundo

São manhãs de desagrado,

Solta a voz a dona Inácia

Para assassinar o fado.

O palerma do vizinho

Não dá sossego ao martelo,

Ainda me diz no focinho:

São obras de Sant’Engrácia!

O Chico, na oficina,

Faz um barulho infernal,

Ainda vai prò outro mundo

A rebarbar o metal.

No rés do chão, o Romeu,

Aluno de percussão,

Faz duas horas de treino

Que me levam à exaustão.

É o mais novo da Tina…

E tem bicho-carpinteiro,

Arrasta, pula à maneira,

Uiva o santo dia inteiro!

Ai o senhor Magalhães

Que devia dar exemplo!...

Pois sendo ele o porteiro

Nunca cala os seus cães.

São as horas de Maria…

Relógio do campanário

D’altifalante ligado

E as “meias”… d’agonia!

Não fui eu quem assim quis…

A cada cinco minutos

Há comboio de passagem,

Estridentes… seus carris.

Até bem perto de mim,

Após risada sarcástica,

Da boca sai a estalar

Bola de pastilha elástica.

Há ideias criativas!...

Mas por que raio fui dar

A passar de três mil euros

Por próteses auditivas?



© Jorge Nuno (2014)

2 comentários:

  1. Para ouvires tal chinfrim
    Mais valia continuares surdo
    Pois assim como assim
    Não ouvirias tanto absurdo
    eh, ehhhhhhh

    Boa Jorge Nuno!!

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  2. Muito oportuno o conteúdo, amigo José Matias. Com sempre... uma quadra a acertar na muche! :-) Um abraço.

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